quinta-feira, 13 de junho de 2013

“Como se constrói porcaria no Brasil!”, diz criador de torre




Esta matéria com o arquiteto uruguaio Rafael Vinoly, foi publicada no dia 7 de junho na Folha de SP, mas é tão interessante que merece a republicação, em especial neste momento em que vimos a ministra do Planejamento dizer que mais importante que projetos é a realização de obras, e em Mato Grosso vimos uma empresa de engenharia errar na altura de um pilar de sustentação de um viaduto.
Rafael Viñoly, que projeta em NY maior edifício residencial do Ocidente, critica arquitetura corporativa brasileira – Por Raul Juste Lores – de Nova York
edificio _press kit_NG.indd“Nunca construí no Brasil. Os brasileiros vêm aqui, pedem mil projetos e depois desaparecem”, conta o arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, 68, que solta, com uma gargalhada: “Não dá para confiar em vocês”.
Ele ri e completa. “Não que vocês precisem de mim. Sempre tiveram grandes arquitetos. Mas a arquitetura corporativa no Brasil é muito ruim. Como se constrói porcaria no Brasil!”.
Não que Viñoly esteja precisando de muitas encomendas: ele tem projetos espalhados em diversos continentes.
Seu mais recente é o mais alto edifício residencial do Ocidente, com 94 andares, o 432 Park Avenue, com vista para o Central Park.
Com dez coberturas de até US$ 95 milhões (cerca de R$ 202 milhões), tem apenas 104 apartamentos, além de lojas, restaurantes e academia. Deve ficar pronto em 2015.
Viñoly, que foi um dos finalistas no concurso para o novo World Trade Center, mora em Nova York desde 1978, quando migrou para os EUA.
REINVENÇÃO
Trabalhava antes em Buenos Aires, onde cresceu e estudou arquitetura, depois que seus pais trocaram o Uruguai pela Argentina, quando ele tinha apenas quatro anos.
Hoje, seu escritório tem 80 arquitetos e está instalado num antigo estábulo do início do século 20, perto do Meat Packing District.
Em Nova York, ele diz que ou se constroem prédios de luxo, ou de habitação popular (“são os projetos que me desafiam mais; estamos fazendo vários”, conta).
Tem projetos na China, no Oriente Médio e em várias cidades americanas. O mais premiado é um centro de convenções no Japão, o Tokyo International Forum.
Depois de falar da beleza de seu último arranha-céu, “mas no qual certamente alguma senhora rica de Hong Kong vai fazer uma decoração interior gótica”, Viñoly diz que a forma da cidade é mais importante do que a forma de qualquer prédio.
CONTROLAR O DESEJO?
“O grid nova-iorquino, com quadras pequenas, fáceis de serem atravessadas, calçadas largas, transporte público e muita densidade, é o grande motivo de haver tanta gente na rua aqui”, diz.
“Arquitetos já quiseram controlar a maneira como as pessoas vivem e se locomovem, mas não se podem controlar as relações humanas”, afirma ele.
“É como achar que casamento só pode acontecer entre homem e mulher. Quem controla o desejo humano?”
Ele também elogia a constante reinvenção nova-iorquina. “Gosto de preservar coisas boas, mas as pessoas também construíram muita merda no passado. Nem tudo o que é velho deve ser preservado”, polemiza.
Ele não desperdiça a oportunidade de criticar colegas da profissão (um dos passatempos favoritos dos arquitetos, afinal).
“Quis fazer um arranha-céu com a cara de Nova York, que só pudesse ser feito aqui. Não tem graça fazer prédios sem relação com o entorno, que podem ser colocados em qualquer lugar.”
Ele rabisca então em uma folha de papel os traços da Swiss Re, a torre de Norman Foster em Londres que foi apelidada de “pepino”.
“Depois aquele menino francês fez algo quase igual em Barcelona, nem sei quem copiou quem”, alfineta, ironizando Jean Nouvel.
PROJETO EM BRASÍLIA
Viñoly tem poucas obras recentes na América do Sul –o museu Fortabat, em Buenos Aires; o aeroporto de Carrasco, em Montevidéu, e o badalado edifício Acqua, em Punta del Este. Nos anos 1960, viveu alguns meses em Copacabana, por causa de um projeto que nunca foi construído.
Ao final da entrevista, Viñoly conta que a Corporación América, o conglomerado argentino que arrematou a concessão do aeroporto de Brasília, convidou-o para desenhar um novo terminal. Talvez seja a primeira obra do uruguaio no Brasil.

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