21 de junho de 2013 | 2h 23
CELSO MING - O Estado de S.Paulo
O governo Dilma não preparou a economia para o novo tranco que vem com o desmonte da política de incentivos promovida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Não houve ainda nenhuma mudança nos Estados Unidos nem no Fed. Pelo que se sabe das informações passadas pelo seu presidente, Ben Bernanke, na quarta-feira, o despejo de dólares no mercado americano, de US$ 85 bilhões por mês, só deverá começar a diminuir a partir do final deste ano. Entenda-se: não é nem o fim das emissões de moeda destinadas à compra de títulos, nem muito menos o início do recolhimento desses dólares no mercado por meio da revenda dos títulos em poder do Fed. Será apenas o começo de um período de redução das emissões de moeda - e de compra de títulos pelo Fed.
No entanto, apenas com a perspectiva de que, lá na frente, um forte volume de títulos seja devolvido ao mercado, a rejeição de ativos e a retenção de dólares já é enorme.
Diante dessa nova baixa disposição a assumir riscos, a economia do Brasil já não se comporta como em 2008, quando o que chegou a nossas praias foi "apenas uma marolinha".
É que naquele momento ainda havia uma política fiscal bem mais robusta, uma política monetária (política de juros)mais calibrada para o tamanho das fragilidades estruturais da economia e os resultados das Contas Externas eram sólidos. Não levantavam preocupações, como agora, de que, a despeito das reservas internacionais, pode escassear moeda estrangeira.
Durante meses, tanto a presidente Dilma como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vinham se queixando do excesso de dólares nos mercados e não paravam de denunciar, aqui e nos fóruns internacionais, o que chamaram de "tsunami monetário" e "guerra cambial". Queriam a reversão do programa de incentivos praticado pelo Fed. Mas, agora que têm a perspectiva dessa reversão, se dão conta de que o estrago será potencialmente maior do que aquele que temiam antes, quando a operação era inversa.
Pior, essa reversão pega a economia brasileira fragilizada, incapaz de crescer a ritmo satisfatório, com uma inflação que já fura os telhados e com preocupantes vazamentos nos resultados do balanço de pagamentos. E nem se fale na situação política, agora revirada por essas manifestações vitoriosas, com que ninguém contava.
Até o momento, o governo federal resistiu a mudar os rumos de sua política econômica de modo a reforçar as defesas. Entendeu que isso implicaria sacrifícios capazes de colocar em risco a candidatura de Dilma à reeleição. Atenção: a inflação que vem vindo aí, agora em consequência da alta do dólar, não vai ceder apenas porque as autoridades pedem paciência.
O melhor que a presidente Dilma poderia fazer seria acatar a sugestão do ex-ministro Delfim Netto e produzir uma rearrumação da economia que garantisse a obtenção de um déficit nominal zero ao cabo de três anos. Trata-se de apresentar um rigoroso equilíbrio entre receitas e despesas públicas, incluídos aí os juros da dívida. Se anunciada com credibilidade, a nova postura se encarregaria imediatamente de restabelecer um mínimo de confiança que ajudaria a economia a se preparar para o que vem aí.
A política fiscal não é anticíclica? Pois então chegou a hora de colocá-la no ciclo certo.
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