Cristina Peiter voltou para a casa, na cidade gaúcha de Casca, na quarta. Jovem conta que aprendeu a dar valor às pessoas e planeja formatura.
A comemoração de uma grande vitória, a vitória da estudante Cristina Peiter. Parentes, amigos e conhecidos reunidos. A cidade gaúcha de Casca fez festa para celebrar o show da vida. “Eu quero sair, quero chegar em casa, quero ver meus cachorros”, desabafa Cristina. Na quarta-feira (29), ela saiu do hospital. “Agora somos nós. Eu, Cristina, o César, nosso motorista oficial, o meu paizinho, a mãezinha e o nosso caminha para casa”, diz a jovem.
Cristina, de 24 anos, estava na boate Kiss no incêndio que matou 242 pessoas na madrugada de 27 de janeiro. Ela teve 22% do corpo queimado. “Eu lembro que, na frente de onde eu estava, abriu um buraco e algumas pessoas gritaram ‘briga, briga’. E aí a gente se afastou até que alguém do público gritou ‘fogo’. Aí bateu um desespero. E tinha aquelas grades que também trancaram muita gente. Eu, inclusive, fiquei trancada naquilo lá e não conseguia mais passar. Aquela fumaça, não conseguia mais respirar. Eu pensei ‘não acredito que eu vou morrer aqui’, porque já não tinha mais esperança. E era muita gente ali. Eu não sei como é que me tiraram mesmo”, lembra.
Ela foi levada ao pronto-socorro de Santa Maria. O irmão mais velho foi o primeiro a encontrar Cristina no hospital depois da tragédia. “Antes de entrar no quarto, eu ficava andando de um lado para o outro sem saber o que fazer e sem coragem de entrar também. Só que daí eu vi que eu tinha que entrar, não tinha outra pessoa para fazer isso. Então eu entrei e foi que eu vi, não foi nada bom”, conta o estudante Mateus Peiter.
Ela foi encaminhada às pressas para um hospital em Porto Alegre. Durante 25 dias ficou na UTI entre a vida e a morte. “Ela estava muito inchada, preta daquela fumaça e com aquele tubo”, diz o pai, Astor Peiter. “Era muito procedimento, muito bloco cirúrgico. Enfim, muita dor. E a gente sempre do lado, que vai passar, vai passar. E graças a deus passou, hoje ela está bem”, relembra a mãe da jovem, Nilva Peiter.
“Hoje, eu saí do hospital, estou muito feliz. Ainda não caiu a ficha, eu nem estou acreditando que eu estou indo para casa”, diz Cristina.
A equipe do Fantástico chegou à cidade antes da família. Estava frio e chovia bastante, mas, mesmo assim, os amigos estão todos esperando pela volta do pessoal. “Tina, tina, tina”, gritavam os amigos, batendo palmas. Emocionada pela recepção, ela se abraça na mãe e chora muito.
Para Cristina, o momento é de alegria, mas para muitos moradores de Santa Maria, a tristeza continua. No mesmo dia em que ela deixou o hospital, os quatro acusados pelo incêndio na Kiss foram soltos pela justiça.
Cristina ainda deve continuar o tratamento das queimaduras por pelo menos cinco anos. Ela quer concluir o curso de Engenharia Florestal e seguir a mesma carreira do pai. “Eu acho que as provas vem, a gente precisa passar por isso para aprender a dar valor para as coisas, para as pessoas que a gente tem, que às vezes a gente gosta, a gente admira. Eu sempre admirei muito os meus pais, sempre foram meus grandes exemplos, mas agora muito mais, muito mais. Eles são tudo para mim. A minha família é tudo”, afirma Cristina.
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