13 de agosto de 2012 | 14h56
Sílvio Guedes Crespo
“Desculpem, Brazukas… Não há status em um Toyota Corolla, Honda Civic, Jeep Grand or Dodge Durango. Não se deixe enganar pagando o preço de tabela. Definitivamente, você está sendo enganado”.
Nesse tom jocoso e irônico, o jornalista Kenneth Rapoza, da revista Forbes, conta aos leitores do seu blog o que ele pensa dos altos preços de carros no Brasil.
A tese dele é de que os impostos altos e a ingenuidade dos consumidores – que aceitam pagar caro por acreditar que os veículos são sinal de status social – explicam por que os automóveis chegam a custar três vezes mais no País do que nos Estados Unidos.
“Alguém pode achar que se um Jeep Grand Cherokee custa US$ 80 mil significa que ele vem equipado com asas e com rodas banhadas a ouro. Mas, no Brasil, ele vem na versão básica”, afirma o jornalista. O veículo citado custa, na verdade, ainda mais no mercado brasileiro: US$ 89,5 mil. Já nos EUA, sai por US$ 28 mil.
Rapoza lembra que, além de pagar mais, os brasileiros ganham menos. No caso do carro mencionado, o preço nos EUA equivale a metade da renda anual média dos americanos. Já o valor cobrado no Brasil corresponde a mais do que o salário de um ano de um morador do País.
Por que é caro
Curioso é que Rapoza sugere a leitura de um artigo do site Notícias Automotivas que defende uma tese bem diferente da dele. O texto do portal brasileiro enfatiza o lucro das montadoras, não os impostos, como uma razão do preço alto do carro.
O que acontece, conforme escrevi em outra oportunidade, é que tanto o “custo Brasil” (no qual se incluem os impostos) como o “lucro Brasil” explicam a situação.
Aqui, os impostos sobre automóveis são bem mais altos que nos EUA e na Europa. Eles equivalem a 30,4% do preço médio de um carro, segundo a Anfavea (associação dos fabricantes nacionais). Na Itália, no Reino Unido, na França e na Alemanha, essa proporção varia entre 15% e 17%. Nos Japao, é de 9,1%; nos EUA, de 6,1%.
Pior é que, mesmo se descontarmos os impostos, os carros aqui continuam mais caros do que nos EUA e na Europa, conforme um levantamento que fiz com ajuda do consultor Luiz Carlos Augusto, especializado em veículos, há um ano. Considerando os dados desse estudo da Anfavea, o Chevrolet Malibu, por exemplo, custaria R$ 57.176 sem impostos, preço mais alto do que os R$ 38.840 cobrados nos EUA (com impostos).
Também reforça a tese de que os fabricantes conseguem ganhar mais em cima dos consumidores brasileiros um estudo do banco Morgan Stanley. A instituição financeira concluiu: “Os dias de lucros mais altos que o normal vindos [das montadoras] do Brasil parecem estar chegando ao fim. [...] As margens [de lucro] devem ficar sob pressão”.
Essa estudo indica que, historicamente, quatro maiores montadoras instaladas no Brasil dominavam o mercado nacional com folga, mas agora, com a concorrência dos veículos asiáticos, as margens de lucro tendem a cair.
Se pensarmos de modo amplo, o que acontece é uma parceria não escrita entre o governo e as montadoras. As empresas aceitam pagar imposto alto e, em troca, têm a garantia de que as tarifas de importação serão ainda mais altas, minando a concorrência externa e permitindo aos fabricantes do País vender um carro caro e menos equipado do que os estrangeiros.
Vaidade
Rapoza não é o primeiro – e certamente não será o último – a dizer que a busca por status social entre os brasileiros é um dos fatores que colocam os preços lá em cima. O jornalista Andrew Downie recentemente reuniu em uma reportagem no International Herald Tribune depoimentos de diversos profissionais do mercado de luxo segundo os quais a vaidade ajuda a encarecer os produtos no Brasil.
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