Sete anos depois de o ex-presidente Lula ter anunciado com
estardalhaço a autossuficiência do Brasil em petróleo, o País precisa
importar combustível para suprir a demanda interna. Por causa da gestão
que o governo do PT impôs à Petrobrás, a autossuficiência durou pouco e
sua reconquista demorará. Como admite a empresa, ela só será novamente
alcançada em 2020, em termos plenos (incluindo derivados).
Como outros grandes atos do governo petista, a autossuficiência
anunciada por Lula - com as mãos sujas de óleo, imitando o gesto com
que, décadas antes, Getúlio Vargas comemorara a descoberta do primeiro
poço da Petrobrás - no dia 21 de abril de 2006, na inauguração da
Plataforma P-50, a 120 quilômetros do litoral fluminense, foi tema de
intensa campanha publicitária. "Quando a Petrobrás foi criada, muitos
não acreditavam que fosse viável", disse, em comunicado, o então
presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli. "O fato é que, 53 anos
depois, ela conquistou a autossuficiência para o Brasil."
Mas a administração que afirmou ter "conquistado" essa condição foi
responsável também por "desconquistá-la", pois não conseguiu fazer a
produção crescer em ritmo igual ou superior ao do aumento da demanda
interna por combustíveis derivados de petróleo. Em 2012, a produção
média da Petrobrás foi de 1,98 milhão de barris/dia, mas o consumo total
alcançou 2,06 milhões de barris/dia de derivados, conforme dados da
Agência Nacional do Petróleo. O consumo continua a subir, mas a
Petrobrás continua a produzir menos. Em janeiro, a produção atingiu 1,96
milhão de barris/dia, menos do que a média de 2012, e, em fevereiro,
caiu para 1,92 milhão de barris/dia.
A falta de manutenção adequada dos poços fez a produção cair mais
depressa. A necessidade de reparos de maior porte, porque a manutenção
não foi feita adequadamente, tem implicado a paralisação das operações
por períodos mais longos, o que também contribui para fazer cair a
produção global da empresa.Do lado do refino, o que se constata é que, por terem sido definidos
de acordo com critérios políticos e não técnicos, alguns projetos não
saíram do papel e outros andam muito devagar, e a um custo muito maior
do que o orçado inicialmente.
A construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é uma espécie
de síntese da política da Petrobrás na área de refino durante a gestão
Lula. Para agradar ao então presidente bolivariano da Venezuela, Hugo
Chávez, seu aliado político, o ex-presidente brasileiro colocou a
estatal venezuelana PDVSA como sócia (com 40% de participação) da
Refinaria Abreu e Lima. A sócia não investiu nenhum tostão na obra, que
está muito atrasada e cujo custo, inicialmente orçado em US$ 2,3
bilhões, não ficará em menos de US$ 18 bilhões.
A estagnação da capacidade de refino, por causa do atraso na
construção de refinarias, força a Petrobrás a importar derivados em
quantidades crescentes, para atender à demanda interna. Com a produção
do petróleo em queda e sem aumentar a capacidade de refino, a empresa
quadruplicou seu déficit comercial no primeiro trimestre do ano, em
relação aos três primeiros meses de 2012. De janeiro a março, a
Petrobrás aumentou suas importações em 40,2%, mas suas exportações
diminuíram 50,3%. O resultado foi um déficit comercial acumulado de US$
7,4 bilhões.
A produção, reconhece a presidente da empresa, Graça Foster, só
voltará a aumentar a partir de 2014. É possível que, no próximo ano, a
produção de petróleo seja igual ou ligeiramente superior, em volume, ao
consumo interno de derivados. No entanto, como a capacidade de refino
não será aumentada, o País continuará importando derivados.
A autossuficiência de fato, incluindo petróleo bruto e derivados, só
será alcançada em 2020, quando, de acordo com seu planejamento
estratégico, a Petrobrás estará produzindo 4,2 milhões de barris de
petróleo por dia, terá capacidade de refino de 3,6 milhões de barris/dia
e o consumo interno será de 3,4 milhões de barris/dia.
Editorial do Estadão, intitulado "Autossuficiência mais distante", publicado hoje.
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