sábado, 15 de junho de 2013

Fotógrafo ferido no olho pela polícia promete continuar na profissão




Sérgio Andrade da Silva corre risco de ficar cego do olho esquerdo. 
Polícia e governo ainda não entraram em contato com a vítima.

Rodrigo MoraDo G1, em São Paulo
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Abalado psicologicamente e correndo grande risco de não recuperar 100% da visão do olho esquerdo, atingido no confronto da última quinta-feira (13) entre a Tropa de Choque da Polícia Militar e manifestantes contra o aumento da passagem, Sérgio Andrade da Silva promete continuar na profissão de repórter fotográfico: “se eu tiver condições fisicamente, não vou desistir. A fotografia, os fatos, a notícia são minhas paixões. Eu vou continuar com certeza, tenho fé”.
Fotógrafo Sérgio Andrade da Silva aponta para olho que pode perder a visão  (Foto: Rodrigo Mora / G1)Fotógrafo Sérgio Andrade da Silva aponta para olho
que pode perder a visão (Foto: Rodrigo Mora / G1)
Silva conta que não viu quem atirou nele, embora tenha visto de onde vinham os disparos. “Eu apontei a câmera e fotografei, porque sabia de onde saíam os tiros. Mas não posso afirmar que o policial mirou e atirou em mim. Com certeza ele não fez isso porque tinha muita gente do meu lado e eu estava a uns 300 metros deles. Não daria pra mirar no meu olho e atirar”, explica.
Isso, no entanto, não aplaca sua tristeza. “Meu sentimento hoje posso dizer que é de revolta. Mas se não tivesse acontecido isso comigo, também estaria sentido o que a maioria da imprensa está sentido, que é esse repúdio ao que a Polícia Militar e o governo estão fazendo contra a imprensa, de não deixar ter acesso, não deixar as pessoas trabalharem. Na manifestação vi muito fotógrafo e câmera man ser chutado, empurrado. Eu senti um certo ódio da policia pela imprensa”, reflete Silva.
A foto feita segundos antes de ser atingido está guardada, e não foi publicada. O fotógrafo e a esposa, a jornalista Kátia Passos, ainda não decidiram se vão processar a polícia e o estado. Caso o façam, a imagem será usada num possível processo criminal.
Polícia e governo "ignoram" vítima
Com 31 anos de idade – três deles de profissão –, Silva já havia participado de outros protestos e manifestações, mas nenhum tão violento. “Procuro sempre cobrir manifestações e acompanho o MPL desde 2011. Sempre notei um comportamento adequado da polícia, que fazia o seu papel de acompanhar a manifestação e deixar que as pessoas se expressassem. O evento de quinta foi o primeiro que vi tanta repressão policial”, analisa Silva, que faz sua leitura do que motivou o combate no último dia 13. “As pessoas que provem a baderna com certeza não são do movimento. São pessoas que estão ali para apoiar a manifestação, mas acabam extrapolando. Imagino que a coisa tenha sido assim (violenta) porque os policiais já estavam revoltados com o vandalismo das manifestações anteriores, em que alguns apanharam e ficaram quietos”. 
Na manifestação da última quinta-feira, Silva prestava serviço para a agência Futura Press, que se mostrou solidária ao profissional. “Dois representantes da Futura chegaram ao hospital já na madrugada de sexta e se ofereceram para nos ajudar no que fosse preciso, pessoalmente ou juridicamente”. A mesma atenção, no entanto, não foi prestada por agrediu o fotógrafo. “Ninguém da polícia ou do governo veio falar comigo. O [Fernando] Grella (secretário de Segurança Pública de São Paulo) foi à TV dizer que ia apurar os fatos mais graves. Esperava que ao menos viessem saber minha opinião, saber como eu estou. Estou muito chateado com isso”, lamenta.
Silva deixou neste sábado (15) o Hospital de Olhos Paulista (H.Olhos) com mais chances de recuperar a visão do olho esquerdo. Na tarde da última sexta-feira (14), foi submetido a uma cirurgia e segundo prognóstico dos médicos havia “certeza” de que o fotógrafo não teria a visão restaurada completamente. Após exames neste sábado, em que o fotógrafo voltou a enxergar feixes de luz, “provavelmente” (não terá a visão recobrada integralmente) passou a ser o termo usado pelos médicos, indicando que há chances, ainda que pequenas, de Silva voltar a enxergar pelo olho atingido. Ele também sofreu uma fratura no osso a redor do olho, onde futuramente será realizada uma plástica.

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