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Gabriela Freire Valente

vinheta-clipping-forte1A Rússia reagiu prontamente à decisão da União Europeia (UE) de abrir caminho para a entrega de armas aos rebeldes na Síria: ontem, no dia seguinte à suspensão do embargo pelos chanceleres da UE, Moscou anunciou que fornecerá mísseis antiaéreos S-300 ao regime de Bashar Al-Assad. O governo russo, que divide com os Estados Unidos a convocação de uma conferência internacional destinada a promover negociações de paz sobre o conflito sírio, acusou os europeus de “jogar gasolina no incêndio”, e justificou a ajuda bélica a Damasco como um “fator de estabilização”. “Acreditamos que medidas desse tipo dissuadem alguns espíritos acalorados de contemplar cenários que impliquem internacionalizar o conflito, mediante a participação de forças estrangeiras”, declarou o vice-chanceler Sergei Ryabkov. Israel, porém, não deixou passar em branco o reforço a um vizinho com o qual está tecnicamente em guerra, e afirmou “saberá o que fazer” caso o equipamento russo chegue às forças de Assad.
Os chanceleres da UE anunciaram a suspensão do embargo em Bruxelas, ao fim de horas de reunião. Analistas acreditam que a medida pode acirrar o conflito, embora porta-vozes da UE tenham descartado qualquer remessa de armas aos rebeldes sírios antes da conferência internacional, que deve reunir-se no mês que vem, em Genebra. A Rússia, no entanto, considera que os preparativos para o encontro já foram comprometidos, como ressaltou o vice-chanceler Ryabkov.
Para David Patel, especialista em Oriente Médio da Universidade Cornell, em Nova York, a reação russa, ao oferecer armamento ao regime sírio, seu aliado, não é diferente da decisão dos líderes europeus, e dará uma vantagem para Assad à mesa de negociações. “Isso aumenta seu poder de barganha e a chances ao regime de conseguir concessões por parte dos rebeldes e de seus aliados”, observa Patel. No entanto, o especialista duvida que um eventual acordo seja cumprido, devido à divisão interna dos rebeldes sírios. “Não se sabe se haverá alguém falando pela maioria dos insurgentes. Se o governo sírio fechar um acordo com apenas parte dos opositores, não é certo que todos venham a acatá-lo”, pondera.
A Coalizão Nacional da oposição Síria considerou a suspensão do embargo pela UE uma medida tardia. “É um passo positivo, mas tememos que seja insuficiente e que tenha sido dado tarde demais”, declarou à agência de notícias France-Presse Louay Safi, porta-voz da organização. O opositor relata que o povo sírio está “decepcionado” e precisa de proteção. “As armas são um elemento para isso, mas também gostaríamos que a União Europeia adotasse uma posição mais firme”, queixou-se.
Israel em guarda
O ministro israelense da Defesa, Moshe Yaalon, respondeu ao anúncio de Moscou sobre os mísseis antiéreos pronta e duramente. “As entregas não foram feitas e espero que não venham a ser. Mas, se os S-300 chegarem à Síria, saberemos o que fazer”, afirmou. A possibilidade de uma resposta militar israelense torna ainda mais complexa a situação na região. “O medo de Israel é que armas de alta tecnologia ou armas químicas cheguem às mãos de seus inimigos diretos, como o Hezbollah”, pondera Patel. Apesar de ter feito alertas sobre o repasse de equipamento a grupos que considera “terroristas”, o governo israelense tem tentado manter-se do conflito sírio. “É uma situação sem saída para eles, especialmente quando mais armas estão chegando para o Hezbollah”, avalia Ranen Omer-Sherman, especialista no conflito árabe-israelense da Universidade de Miami.
O possível envolvimento de Israel na crise síria diz respeito também a sua rivalidade com o Irã, que apoia o regime de Assad e fornece ajuda militar ao Hezbollah. Omer-Sherman acredita que, caso isso se torne inevitável, as forças israelenses optarão por ações pontuais. Apesar do risco de o conflito contagiar também os palestinos, o estudioso sustenta que levará algum tempo antes que os ecos da Síria cheguem à Cisjordânia e à Faixa de Gaza: “No passado, o Hamas, que controla Gaza, não se mostrou ansioso por uma aliança com o Hezbollah, e não acho que seja o caso desta vez”. O especialista também afirma que os divididos insurgentes sírios não estariam inclinados a enfrentar Israel, mas ressalta que a situação é “certamente explosiva”, e ameaça se alastrar pela região.