domingo, 5 de agosto de 2012

Com estagnação de Haddad, PT mira cinturão metropolitano



Levantamento nas 38 cidades do entorno de São Paulo mostra que as que mais receberam recursos do governo Dilma antes da campanha são do PT

Thais Arbex
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula participam, ao lado do prefeito Luiz Marinho, de inauguração de Unidade de Pronto Atendimento de Saúde (UPA) em São Bernardo do Campo
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula participam, ao lado do prefeito Luiz Marinho, de inauguração de Unidade de Pronto Atendimento de Saúde (UPA) em São Bernardo do Campo (Wilson Magão/Divulgação)
"Algumas das cidades da região metropolitana são prioridade para o PT nacional pela importância política, pela dimensão, pela base econômica"
A dois meses do primeiro turno das eleições, o escolhido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tirar a prefeitura de São Paulo da área de influência do PSDB, Fernando Haddad (PT), segue estagnado na casa de um dígito nas pesquisas eleitorais. Diante da dificuldade em fazer a candidatura do afilhado de Lula deslanchar, o PT paulista já enxerga nas cidades do chamado cinturão metropolitano de São Paulo uma forma de tentar equilibrar as forças políticas no estado.
A principal arma do partido para as eleições na Grande São Paulo é a relação com o governo federal. Levantamento feito nas 38 cidades que estão no entorno da capital mostra que as que mais receberam recursos do governo Dilma Rousseff nos dois meses que antecederam o início da campanha eleitoral são governadas pelo PT. Neste período, foram transferidos, por meio de convênios, 42,1 milhões de reais para os prefeitos petistas. O valor é mais do que o dobro do que recebeu o segundo no ranking, o PSB, também aliado no plano federal.
São Bernardo do Campo, berço político do ex-presidente Lula, está no topo da lista. Do início de maio até 7 de julho - último dia permitido pela Justiça Eleitoral para a transferência de recursos da União aos estados e municípios - a cidade recebeu 30,2 milhões de reais, o equivalente a 52 reais por eleitor. 
No dia 6 de julho, na véspera de a Justiça Eleitoral proibir a participação de candidatos em inauguração em obras, o prefeito Luiz Marinho (PT), amigo de longa data de Lula, montou um palanque em São Bernardo para receber a presidente Dilma Rousseff. Ela desembarcou em solo paulistano exclusivamente para inaugurar, com a presença do ex-presidente Lula, uma Unidade de Pronto Atendimento de Saúde (UPA) na cidade. Neste dia, o governo liberou 18,3 milhões de reais para a unidade de atendimento que funciona 24 horas e atende casos de média complexidade. 
“Quem chega primeiro, bebe água limpa”, diz Marinho. Segundo ele, os recursos só chegam para a cidade porque sua equipe técnica apresenta “projetos compatíveis” com as exigências do governo federal. “Temos uma situação antes e depois do governo Lula. Até a nossa chegada, a cidade ficou seis anos boicotando as ações do governo federal”.
Cinturão - Além manter o controle suas 11 atuais prefeituras - de um total de 39 -, o PT trabalha para expandir seu domínio. A legenda tem candidatos em 29 das 39 cidades da região. “O objetivo do PT na região metropolitana é sair maior do que entrou”, diz o prefeito de Osasco, Emídio de Souza. Na mira petista estão principalmente cidades como Santo André - que o partido já governou por quatro anos - Franco da Rocha, Mogi das Cruzes e a pequena Rio Grande da Serra.
A região metropolitana é o maior pólo de riqueza nacional, com um Produto Interno Bruto (PIB) de 572,2 bilhões de reais (57% do total do estado e 18,9% do país). Ela abriga 19,7 milhões de habitantes, a metade da população do estado. Os 11 municípios administrados pela legenda concentram 3,4 milhões de eleitores.
“Algumas das cidades da região metropolitana são prioridade para o PT nacional pela importância política, pela dimensão, pela base econômica. Elas estão na agenda das nossas principais lideranças”, diz o presidente estadual do partido em São Paulo, deputado Edinho Silva. “Conquistar mais espaço na região metropolitana de São Paulo é um passo importante, que nos dará condições de melhorar a nossa performance e nos ajudará a alavancar a campanha de 2014 para a reeleição da presidente Dilma e para a disputa do governo do estado”, afirma o deputado Paulo Teixeira (PT). 
Lula - Ainda convalescente por causa do tratamento contra um câncer na laringe, Lula foi orientado por seus médicos a evitar viagens longas. Com isso, o ex-presidente, que mora em São Bernardo do Campo, tem concentrado sua presença nas campanhas das cidades da região metropolitana. Os candidatos de Santo André e Osasco, Carlos Grana e João Paulo Cunha, por exemplo, foram um dos primeiros a ser fotografados ao lado de Lula para o material de suas campanhas. 
“Recuperar Santo André é muito importante para nós”, diz um petista. O partido pretende gastar 15 milhões de reais na camapanha de Grana. 
O otimismo na cidade do ABC paulista não se repete em Osasco, cidade que o partido comanda há oito anos. Réu no processo do mensalão, o deputado João Paulo Cunha enfrentou resistências no partido para disputar o pleito deste ano. “Não há como negar que estamos preocupados e que existe um clima de tensão no ar porque o resultado do julgamento interfere diretamente na eleição de Osasco”, afirma um petista influente. 
Segundo a acusação, ele recebeu recursos do mensalão e desviou verbas de contratos que a Câmara dos Deputados mantinha com a SMP&B, empresa do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. Se condenado, poderá continuar concorrendo, mas caso eleito, corre o risco de ser impedido de tomar posse.
Mesmo assim, ele é candidato de uma coligação com vinte partidos e, segundo as contas petistas, 300 dos 370 candidatos a vereadores na cidade apoiam sua candidatura. À Justiça Eleitoral, João Paulo Cunha declarou 375.648,39 reais em bens e que pretende gastar 9 milhões de reais em sua campanha pela prefeitura.
PSDB – Desde que assumiu o comando do governo do estado, em 2010, o governador Geraldo Alckmin orquestra uma ofensiva do PSDB nas regiões metropolitanas na tentativa de desarticular o “cinturão petista” no entorno da capital paulista. “Estamos nos qualificando nas cidades onde somos oposição ao PT. Apostamos que, neste ano, o PT diminui e a gente cresce”, diz Cesar Gontijo, secretário-Geral do Diretório Estadual do PSDB de São Paulo. 
O PSDB aposta ter chances reais em cidades que também estão na mira do PT, como Guarulhos e Osasco. “Estamos atento a esses movimentos”, diz o presidente petista em São Paulo, Edinho Silva. 
Planejamento - De acordo com o Ministério do Planejamento, os projetos passam por análise técnica e os municípios precisam comprovar que estão aptos a receber os recursosdo governo.
Segundo o Planejamento, os dados do Sistema de Convênios do Governo Federal (SICONV) mostram que os repasses do governo federal aos municípios da região metropolitana “seguem uma média proporcional aos seus PIBs e populações”. “O PT administra 11 municípios da região, mais do que todos os demais partidos e entre as quais estão os maiores em PIB e população da região”, diz o ministério em nota.

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