quarta-feira, 26 de junho de 2013

Adesão do Brasil ao maior consórcio astronômico mundial gera expectativas




Polêmica no espaço – Se o Congresso Nacional aprovar, o Brasil será o primeiro país não europeu a integrar o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês). A adesão ao maior consórcio de pesquisa astronômica mundial, que reúne quinze países, daria aos cientistas brasileiros acesso aos telescópios mais avançados do mundo. Enquanto alguns astrônomos acreditam que a parceria seja fundamental para fortalecer a ciência, outros entendem que o valor é alto demais.
“Sou radicalmente contra. Não cabe subsidiar a ciência europeia com dinheiro do contribuinte brasileiro”, defende o professor João Steiner, do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP). “A adesão do Brasil custará € 255 milhões em dez anos, e depois teremos que continuar a pagar anuidades pesadas, pois é tudo proporcional ao PIB”, conclui.
O ESO é a principal organização intergovernamental em astronomia na Europa e é considerado o observatório astronômico mais produtivo do mundo. Possui telescópios de última geração instalados no Chile (apesar de o país não ser membro do consórcio, tem direito de usar os equipamentos por ter cedido o território). A sede do ESO está localizada em Garching, na Alemanha. A participação brasileira no consórcio já teve aprovação dos ministérios da Ciência e Tecnologia e das Relações Exteriores. O gabinete da presidente Dilma Rousseff encaminhou o projeto ao Congresso Nacional, onde está sob análise.
Vozes favoráveis
“Sozinho, o Brasil faria muito menos. É praticamente impossível fazer ciência como país isolado. É preferível ter uma parcela de um grande instrumento (telescópio) a ter apenas para si um instrumento menor”, defende Jacques Lepine, que também é professor do Departamento de Astronomia da USP.
O Brasil já participa de dois consórcios internacionais, o Gemini e o SOAR. O Gemini foi criado em 1993, com a intenção de operar dois telescópios de 8 metros de diâmetro, no Havaí e no Chile. Pelo diâmetro, os espelhos do telescópio conseguem absorver uma gigantesca quantidade de luz, e com isso geram imagens mais nítidas do espaço. Em 1996, o Consórcio SOAR foi criado para construir e operar um telescópio de 4 metros no Chile.
“Apoio a ideia integralmente. A comunidade astronômica brasileira possui qualidade e astrônomos em quantidade suficiente para fazer um bom uso do ESO”, acredita o astrônomo Luiz Paulo Ribeiro Vaz, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para ele, o Brasil já possui cientistas e técnicos de expressão internacional em várias áreas, e o consórcio possibilitará avanços para as possibilidades observacionais dos astrônomos brasileiros.
“A adesão do Brasil ao ESO será benéfica para a comunidade astronômica brasileira e para o país”, acredita Patrícia Feigueiró Spinelli, astrônoma e pesquisadora do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). No entanto, ela acredita que é preciso justificar ao cidadão o dinheiro investido. “A adesão ao ESO deve vir acompanhada de ações de divulgação e popularização da astronomia.”
Considerada uma das cientistas mais influentes da astrofísica brasileira, Beatriz Barbuy, também da USP, acredita que ao entrar no ESO o Brasil terá futuro na astronomia mundial. “Caso contrário, ficaremos com pequenos projetos aqui e acolá, desordenadamente, e com esforços gigantescos para obter cada um deles”, defende.
Área em ascensão
Ao todo, existem no Brasil 290 astrônomos com doutorado, contratados em diversas instituições. O país forma cerca de 35 mestres e 20 doutores por ano. São dezenove programas de pós-graduação que oferecem mestrado ou doutorado em astronomia. A maior parte é vinculada à área da Física.
“A procura aumentou. Só neste ano houve quatorze candidatos por vaga no curso, mais que a grande maioria dos cursos da USP”, conta Lepine.
Segundo ele, a Sociedade Astronômica Brasileira reúne 663 pesquisadores (mestres e doutores de universidades de todo o país). Especialistas consideram o momento bastante favorável à astronomia brasileira. A USP, o Observatório Nacional no Rio de Janeiro e as universidades federais de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul estão entre os principais centros de pesquisa do país.
Steiner comenta que a astronomia brasileira viveu um boom entre 1970 e 2000, período em que cresceu a uma média de 11% ao ano. “Depois veio uma estagnação, entre 2000 e 2008, quando expandiu apenas 1% ao ano. Hoje voltamos a crescer, graças aos telescópios Gemini e SOAR”, analisa.
A última grande descoberta da astronomia foi a expansão acelerada do universo, que garantiu o Prêmio Nobel da Física em 2011 aos americanos Saul Permutter e Adam Riess e ao australiano-americano Brian Schmidt.
“O número de planetas descobertos também vem crescendo. Sempre se pensa em encontrar um planeta parecido com o nosso, com a mesma massa e temperatura”, diz o professor Eduardo Cypriano, da USP.
Grupos amadores
Um dos fenômenos comuns nesta área de estudo é proporcionar o acesso de leigos ao tema. “A astronomia é ímpar nesse sentido. Raramente vai se ouvir falar de grupo amador de Física, Biologia, Química ou de Filosofia. Mas é muito comum encontrar grupos amadores de Astronomia”, observa Cypriano.
Para ele, esta é uma ciência que desperta muito a atenção das pessoas e propicia o aparecimento desses grupos. “O observador amador contribui para a popularização e divulgação da ciência”, analisa o professor. (DW)

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