quinta-feira, 20 de junho de 2013

Thiago de Mello: “O clamor das ruas terá consequências na vida política da nação”



Blog do Altino Machado




Mensagem do poeta amazonense Thiago de Mello, 87 anos, ao blog:

"Altino irmão, se concordas, sei que vai concordar, te conheço, dá lugar no teu blog para o que acabo de escrever sobre o povo indo para as ruas, protestar, clamar, depois de tanto silêncio de indiferença, costume, e é assim mesmo.

Guarda a meu abraço solidário. 

Thiago de Mello".

Na manhã desta quinta-feira, o poeta recebeu do filho dele, Thiago Thiago de Mello, 34, compositor e cientista social, um apelo:

"Pai,

tem visto as manifestações pelo Brasil? Quero saber o que você tem a dizer sobre os protestos. Acho que o povo (a classe média, vamos dizer a verdade) tem que ir sim às ruas protestar. Vejo que as reclamações e insatisfações são em relação a tudo: inflação, injustiça, corrupção, desemprego, por aí vai. Dizem que a nova geração está vivendo o seu maio de 68. A palavra mais falada tem sido "revolução".

O que você acha?

Beijo grande, saudade. E você, por onde anda?"

Resposta de Thiago de Mello a Thiago Thiago:

"Tu sabes, meu filho, que aprendi com a história, faz tempo, que só com a participação popular uma luta triunfa e só quando o povo vai para as ruas protestar, condenar, clamar com a sua voz, a mais poderosa que existe, é que se consegue a mudança do que é preciso mudar, antes que a vida apodreça.

Quando viram que o clamor se alastrava pelo país, os donos do poder se agarraram ao aumento das passagens, reivindicação que abriu caminho para as mais importantes, tiveram que ceder, temerosos de que os protestos prossigam.

Mas a insatisfação e a revolta que o povo demonstrou – a sua forma de luta, o clamor das ruas- sacudindo a indiferença, o costume, o é assim mesmo, que favorecia a injustiça e o despudor – não findam com a volta do valor das passagens ao preço  antigo.

Ainda que as ruas baixem de voz -e podem até se elevar -tudo vai depender do tino político das lideranças, na verdade ainda desconhecidas, além do sentimento popular – os seus brados terão inevitáveis consequências na própria vida política da nação. Os governantes vão pisar em ovos, cuidadosos de resvaladas no poder, as ambições eleitorais  também já se ressentem de inseguranças, a democracia autoritária vai baixar de crista, mas ainda não vão se acabar – a perda da ética é enfermidade contagiosa.

A nossa história recente nos mostra que quem derrubou a ditadura militar foram os milhões de brasileiros que, na Praça da Sé, em São Paulo e na Candelária, no Rio, exigiram as Eleições Diretas Já, iniciando a campanha que empolgou a nação e a consciência da pátria. E triunfou. Enquanto nos porões do Planalto se conspirava para que a máquina de reprodução de ditadores implantada pela ditadura no Congresso elegesse um novo general, o Brasil ganhou alma nova com a eleição de Tancredo Neves.

Em Manaus, só nesta quinta-feira (23), vai sair uma passeata, quando o Artur Virgílio, antes de todos, já anulara o aumento das passagens. Só quero ver o que Manaus vai pedir. Tomara que protestem contra a caixa dois dos governadores, crime traiçoeiro, que nos envergonha; contra o sonho escuro das crianças que dormem com fome.

Se o meu doutor não acabasse de proibir, com voz altiva, te digo, que a minha vontade é de participar  da caminhada.

Reparte o que me pedes, filho querido, com os teus companheiros."

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