quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Economia dilmista: dois anos de fiasco

31 de dezembro de 2012

Estadão - Editorial
Comentário inicial Paulo Roberto de Almeida:
Não existe novo modelo econômico, ou se existe não é modelo, e não é econômico, e sim uma vontade política, inscrita na mesma vertente autoritária que caracteriza o partido dos companheiros, e que pretende baixar os juros por decreto, e aumentar o consumo, como se isso garantisse crescimento. O que o governo está conseguindo é maior inflação e menor investimento, e portanto menor taxa de crescimento, em face das crescentes intervenções improvisadas do governo na economia. O ambiente macroeconômico é o mais confuso possível, pois não se sabe o que o governo vai ainda encontrar para o que ele chama de estímulo à economia. Manifestamente, o governo não confia nos mercados, e prefere usar seus próprios recursos para produzir, politicamente, crescimento. O que consegue, na verdade, é menos crescimento e mais inflação.
Paulo Roberto de Almeida   

Dois anos de fiasco econômico
Editorial O Estado de S.Paulo, 30/12/2012

A presidente Dilma Rousseff completa meio mandato com um balanço econô­mico assustador - dois anos de produ­ção estagnada, in­vestimento em que­da, inflação longe da meta, exporta­ção emperrada e contas públicas em deterioração. Desemprego baixo e um consumo ainda vigoroso são os dados positivos, mas insuficientes pa­ra garantir a reativação de uma indús­tria sem músculos para disputar espa­ço nos mercados. Sobram palavras: um discurso triunfal sobre um "novo modelo macroeconômico", baseado em juros mais baixos e câmbio me­nos valorizado, promessas de gran­des obras de infraestrutura e de refor­mas de amplo alcance. De concreto, houve a redução dos juros, o que cer­tamente contribuiu para o aumento da popularidade de Dilma. Um balan­ço provisório basta para mostrar o al­to custo dos erros cometidos em dois anos pelos condutores da política eco­nômica, liderados, é bom lembrar, por uma presidente voluntariosa.
O crescimento econômico deste ano está estimado em torno de um por cento por economistas do Banco Central (BC), do mercado financeiro e das consultorias mais importantes. Esse resultado seria em em qual­quer circunstância, mas no caso brasileiro há uma circunstância especial.
No ano anterior o Produto Interno Bruto (PIB) havia aumentado apenas 2,7%. O País perdeu o passo entre os emergentes de todo o mundo. Este detalhe é importante, porque desqua­lifica as tentativas de atribuir o mau desempenho brasileiro à crise global, ao tsunami monetário criado pelos bancos centrais do mundo rico e à má vontade dos deuses.
Os problemas são internos, todos fabricados no Brasil por uma política há muito tempo defeituosa e piorada pela teimosia do atual governo. Se­gundo o Tesouro, os investimentos do governo central foram de janeiro a novembro 22,8% maiores que os de um ano antes e atingiram R$ 54,9 bi­lhões. Mas isso eqüivale a pouco mais de 50% do total previsto no Orçamen­to. Além disso, o valor inclui os finan­ciamentos do programa Minha Casa, Minha Vida e boa parte dos desembol­sos foi de restos a pagar. Se depender da eficiência federal, continuarão fal­tando investimentos tanto para reati­var a economia em 2013 quanto para garantir um crescimento mais vigoro­so nos anos seguintes,
Tudo somado, o valor investido pe­lo setor privado, pela administração pública direta e pelas estatais deve ter ficado em torno de 18% do PIB. Em outros países latino-americanos ja proporção ultrapassa 25% e nos emergentes da Ásia supera 35%. Além disso, é preciso levar em conta a qualidade dos projetos e a eficiência da execução. Não basta investir.Os al­vos podem ser mal escolhidos e o dinheiro, desperdiçado. O histórico dos projetos federais, tanto da administração direta quanto das estatais, tem sido muito em há vários anos. Aparelhamento, loteamento de car­gos, incompetência e corrupção têm custado muito caro.
A inflação alta contrasta com o bai­xo ritmo de atividade. Em outros paí­ses, tolera-se alguma alta de preços para garantir algum impulso à econo­mia, e sempre por um tempo muito li­mitado. No Brasil, o governo vem mantendo há vários anos a meta de 4,5%, muito alta quando comparada com os padrões internacionais. Neste ano, o BC cortou juros e renunciou a combater o aumento de preços, em troca de um crescimento econômico humilhante para um Brics.
Os preços ao consumidor medidos pela Fundação Getúlio Vargas e in­cluídos no IGPM subiram 5,79% nes­te ano, De novembro para dezembro houve aceleração de aumentos em seis dos oito componentes do indica­dor, O IPCA, calculado pelo IBGE e usado como referência para a política oficial, aumentou 5,53% nos 12 meses terminados em novembro. A alta in­ternacional dos preços agrícolas foi obviamente apenas uma parte dessa história.
A balança comercial refletiu a fra­queza da indústria diante dos compe­tidores, o erro de uma política de estí­mulos voltada para o consumo e, naturalmente, a dependência excessiva das vendas de matérias-primas à Chi­na. Até novembro, o valor exportado foi 4,9% menor que o de um ano an­tes, pela média dos dias úteis, e o sal­do comercial, 31,1% inferior ao de igual período de 2011. Os números fi­nais do ano devem sair na quarta-fei­ra e confirmarão, com certeza, o alto custo de vários erros políticos.

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