terça-feira, 30 de outubro de 2012

'Corinthians' inglês reforça torcida do Timão e revela freguesia do Chelsea


Antes mesmo da fusão com Casuals, clube bateu os Blues duas vezes. Torcedor fanático já viveu experiência no Brasil e vai para o Mundial

Por Cahê MotaDireto de Londres
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Robert Cavalini - Relações públicas do Corinthian Casuals (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)Robert Cavalini, Relações públicas do Corinthian
Casuals (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
Para um, vencer o Chelsea já foi algo “normal”. Para o outro, pode ser a consagração máxima. Para um, voltar a jogar com o Chelsea é uma utopia. Para o outro, uma tendência, que pode ser confirmada em 16 de dezembro. Faltando pouco mais de um mês para o início do Mundial de Clubes, as histórias de Corinthian-Casuals e Sport Club Corinthians Paulista voltam a se cruzar em coincidências responsáveis não somente por um sotaque inglês na torcida brasileira que invadirá o Japão, mas também bons fluídos através de um fato: os Blues são fregueses do “Timão”.
Tudo bem que as estatísticas são a favor da filial. Ou melhor, da “matriz”, afinal foram os ingleses, em visita ao Brasil, em 1910, os responsáveis pelo batismo daquele que se tornaria um dos maiores clubes do país. Mas a verdade é que o Chelsea já sofreu na mão dos corintianos. Em 1905, ainda recém-fundados, e em 1923, os Blues foram derrotados em duas oportunidades (1 a 0 e 2 a 1) pelo Corinthian, o original, antes mesmo da fusão com o Casuals, outro clube do Sudoeste de Londres, em 1939.
O tempo passou, o Chelsea cresceu e virou milionário com a fortuna do russo Roman Abramovich. Mais do que isso, virou grande, enquanto o Corithian nunca quis deixar sua origem amadora, e segue sendo a diversão de poucas centenas de fiéis que se espremem no acanhado estádio King George para torcer em jogos da oitava divisão inglesa. A possibilidade de reencontro com os Blues, no entanto, empolga, mesmo que o confronto seja com os co-irmãos brasileiros.
- Odeio o Chelsea. Eles são como o São Paulo no Brasil. Mesmo antes de terem dinheiro, eles sempre foram arrogantes, prepotentes, são coisas que não me agradam. Antigamente, também eram muito violentos, com hooligans, eram um grande problema. Quase ninguém gostava deles. Não tem nada a ver com futebol, mas é o tipo de coisa que não gosto – disse Robert Cavalini, relações públicas do clube inglês e corintiano fanático. Seja no Brasil ou na Inglaterra.
Galeria, Corinthian Casuals (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
"Gringo" vai para o Japão atrás do Timão
Casado com uma brasileira, Cavalini descobriu o Corinthian-Casuals após apresentação na faculdade e de cara se apaixonou. Se aproximou do clube, pesquisou, escreveu um livro – onde descobriu o histórico contra o Chelsea – e viajou ao Brasil para amistoso com o xará brasileiro em 2001. Foi quando iniciou uma relação de bigamia confessa.
- Tinha ouvido falar na universidade da história entre os dois clubes quando descobri o Corinthian-Casuals. Em 2001, fui ao Brasil pela primeira vez e foi incrível. Desde então, voltei todos os anos para ver o Corinthians jogar, torcer e tentar desenvolver a relação entre os dois clubes.
As visitas que eram anuais ganharam um novo capítulo em 2010, quando Robert decidiu passar todo o centenário atrás do Timão. Fosse dentro ou fora de casa, lá estava o inglês, no meio da organizada mais famosa do clube, torcendo e cantando com sotaque: “Aqui tem um bando de louco...”.
- A experiência como um todo foi muito divertida. Eu amo futebol, amo assistir aos jogos, e também a sensação de não saber nunca o que ia acontecer nas viagens... Uma partida marcante foi contra o Independiente, em Bogotá. Empatamos por 1 a 1, com um gol de Dentinho faltando cinco minutos para o fim. Tive problemas para conseguir ingressos e acabei com um amigo na torcida rival. Quando eles marcaram, ficamos quietos, mas quando o Corinthians empatou vibramos. Eu e meu amigo ficamos tensos, olhamos em volta, cerca de cinco mil torcedores nos olhavam sem entender, mas felizmente nada aconteceu.
Troféu Amistoso contra o Corinthians em 1988 (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)Troféu Amistoso contra o Corinthians em 1988 (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
Branco, loiro e com poucas palavras em português no vocabulário, Cavalini virou atração no grupo e logo ganhou um apelido óbvio: Gringo. Apelido esse que até batizou o livro “Oi, Gringo!”, onde o inglês relatou para os corintianos do Sudoeste de Londres sua experiência seguindo o “filho” que cresceu muito mais que o pai.
E engana-se quem pensa que esta foi apenas uma aventura de um estrangeiro. Rob Cavalini se sente parte da fiel mesmo. Tanto que já tem passagem e ingressos comprados para acompanhar o Corinthians no Japão. Aí, sim, entra a vontade dobrada de vencer. Afinal, voltar para casa e tirar um sarro dos torcedores do Chelsea não seria nada mal. O inglês, por sinal, reforça a teoria de que os Blues não estão muito preocupados com a competição, e acha que isso pode acabar sendo bom para o Timão.
- Eles não sabem muito do futebol brasileiro. Sabem que o Corinthians é um dos grandes, até pelo fato de Tevez e Mascherano terem jogado lá, assim como André Santos, Ronaldo... Para muitos, o Mundial é mais uma oportunidade de ganhar dinheiro. Eles não dão muita importância, mas acham que vão ganhar. Até por olharem pelo que aconteceu com o Santos contra o Barcelona, mesmo com Neymar. Viram um time ser destruído, mas não é o que vai acontecer esse ano. Acho que isso pode acabar sendo bom, porque o Chelsea pode não dar ao Corinthians o respeito que merece.
Entrada do estádio King George, Corinthian (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)Entrada do estádio King George, humilde casa do Corinthians Inglês (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
Tatuagem do Chelsea e bandeira do Timão
A relação entre corintianos ingleses e brasileiros é responsável não somente por histórias de admiração e paixão, mas também por capítulos inusitados. Como, por exemplo, o fato de um dos torcedores mais assíduos do clube inglês ser fanático também pelo Chelsea, ao ponto de carregar tatuagens do clube azul pelo corpo. O detalhe é que, a cada jogo do Corinthian-Casuals, Roger Stringer leva consigo também uma bandeira do clube paulista, presente de brasileiros que vivem em Londres.
Roger Stringer, torcedor do Chelsea e do Corinthians (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)Roger Stringer, torcedor do Chelsea e do
Corinthians (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
Entre gritos de “Coriiiiiinssian” (com sotaque inglês carregado, onde o “th” faz som de “s”), Roger comentou o possível encontro de 16 de dezembro. Sincero, não falou em coração dividido. Deixou claro que o Chelsea vem em primeiro lugar, mas não se importa em caso de conquista brasileira no Japão por não colocar o Mundial entre suas prioridades.
- Sinceramente, ninguém se importa. Já perdemos a Supercopa por 4 a 1 para o Atlético de Madri e foi assim. Estamos no topo da Premier League, tivemos conquistas na temporada passada. Sou torcedor do Chelsea, mas também do Corinthian-Casuals. Então, se os brasileiros ganharem, não tem problema para mim. Espero que seja um jogo justo. Por toda relação histórica, gosto também do Corinthians. Inclusive, trago para todos os jogos esta bandeira que ganhei de um amigo brasileiro.
Ao seu lado, Dennis Deadman demonstrou mais entusiasmo ao vestir a camisa alvinegra numa provável final do Mundial.
- Sei que formamos um clube no Brasil, mas se chama Paulista. E vou torcer por eles no fim do ano. Até por ser torcedor também do Arsenal. Se o Corinthians ganhar do Chelsea, nosso Corinthian se sentirá também poderoso. É uma questão de história, como se tivéssemos dado a luz a essa criança.
Bar do estádio King George, Corinthian (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)Bar do estádio King George, casa do Corinthians Inglês (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
Lembranças de Sócrates e amistoso em 1988
Com realidade modesta, o Corinthian-Casuals não esconde o orgulho de um passado que mantém vivo em recordações expostas no bar do estádio e na presença de ex-jogadores como funcionários. Desses, dois estiveram no Brasil em 1988 para amistoso no Pacaembu contra o Timão. Responsável pela súmula das partidas, David Harrison tem uma lembrança especial da derrota por 1 a 0.
- Minha maior recordação é do Sócrates jogando conosco por 20 minutos. Pedimos isso a ele antes do jogo e foi fantástico, uma grande honra.
Seu ex-companheiro, Tom Slade, fez coro e relembrou momentos daquela tarde de 5 de junho.
Tudo que o Corinthians conquista nos faz olhar para o passado e sentir muito orgulho"
David Harrison, ex-jogador do Casuals
- Foi incrível jogar em um grande estádio, um dos melhores do mundo. Os torcedores brasileiros foram fantásticos, cantaram músicas, tocaram tambores... Isso tudo tornou um ambiente muito empolgante. O Corinthians tinha jogadores habilidosos, da Seleção Brasileira, e o Sócrates decidiu com um gol, mas para o lado brasileiro.
A dupla também reforçará a torcida caso Timão e Blues realmente decidam o Mundial, como garantiu Harrison.
- Tudo que o Corinthians conquista nos faz olhar para o passado e sentir muito orgulho. Agora, vamos torcer por eles no Mundial, não iríamos torcer para o Chelsea, né? (risos)
A expectativa é de que apaixonados pelo Corinthian-Casuals se reúnam no bar do King George na manhã de domingo, 16 de dezembro, ao lado de brasileiros para acompanhar a partida. Em Tolworth, no Sudoeste de Londres, o azul, cor predominante do estádio, não tem nada a ver com Chelsea. Definitivamente.

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