terça-feira, 11 de setembro de 2012

Russomanno resolveu baratear o progressismo e o conservadorismo. E a imprensa “iluminista” não sabe o que fazer com ele. Bem feito!


Pois é!
A campanha obscurantista contra o tucano José Serra, movida com o apoio de setores consideráveis da imprensa paulistana, gerou um mostrengo chamado Celso Russomanno (PRB). O esforço sistemático para destruir a gestão Kassab — que está longe de ser um desastre — e para inviabilizar o nome de Serra acabou concorrendo para fortalecer outro “nome novo”, mas nem tão novo porque já estava ancorado em programa de televisão da Record e era conhecido pela suposta defesa dos consumidores. Em vez de Fernando Haddad disparar nas pesquisas — vamos ver as próximas; amanhã deve ter novo Datafolha —, Russomanno passou a demonstrar uma inesperada (para a “imprensa boa e progressista”, não para mim) resistência.
O que se chama “fenômeno” não tem nada de misterioso ou inexplicável, já escrevi aqui. O rapaz que é incapaz de manter um diálogo consequente sobre a cidade, além das frases de efeito, conseguiu se tornar o beneficiário tanto do sentimento de rejeição à gestão Kassab — meticulosamente cultivado pelos supostos bem-pensantes ao longo de quase quatro anos — como da rejeição, vejam que coisa! — ao próprio petismo.
Num caso, basta-lhe a) fazer críticas fáceis e erradas à administração; caso vença e ponha em prática tudo o que promete, aí, sim, conheceremos o caos na cidade. No que concerne à rejeição ao petismo, b) basta-lhe exercer o que costumo chamar de “conservadorismo rancoroso e desinformado”, e pronto! A imprensa, esmagadoramente pró-Haddad, não sabe lidar com isso. Algumas das “denúncias” que faz contra Russomanno só contribuem ou para fortalecê-lo para consolidar sua posição. Nem por isso têm de ser evitadas. Apenas registro um fato.
Abordo o item “a”. Existe restrição à circulação de caminhões em determinadas áreas da cidade — uma prática corriqueira em várias capitais do mundo? Sim! E está correta! Mas Russomanno promete acabar com ela. Os únicos eventuais beneficiados pela medida seriam os caminhoneiros e as empresas de entrega. A esmagadora maioria dos eleitores de Russomanno — e de qualquer outro candidato — pagaria o pato. Mas a turma aplaude. Acha a ideia boa. A Prefeitura combate o comércio irregular de camelôs ou feiras clandestinas? Russomanno promete pôr um fim ao que chama “perseguição”. A indisciplina nessa área liquida com a qualidade de vida nas cidades. E daí? Existe um disciplinamento para a construção e a operação de templos religiosos? Tem de haver — e deve valer para qualquer atividade. Com Russomanno, tudo será diferente! Faltam creches na cidade? Ele promete a verticalização das escolinhas, o que é uma bobagem sob qualquer ponto de vista que se queira. A cidade reclama de segurança, embora São Paulo seja a capital mais segura do país (mas a imprensa paulistana passou a impressão de vivemos no caos)? Não tem problema: Russomanno diz que vai contratar mais 14 mil (!!!) guardas municipais — um desembolso extra de R$ 3 bilhões por ano aos cofres públicos — e incorporar vigias particulares ao grupo, o que se assemelha à criação de milícias.
Trato agora do item “b”, do tal “conservadorismo rancoroso e desinformado”. Existe a progressão continuada em quase todas as escolas públicas do Brasil? Existe! Inclusive na cidade de São Paulo. Foi introduzida, aliás, pelo petista Paulo Freire, quando secretário de Educação de Luíza Erundina. Foi adotada, depois, infelizmente, pelo Estado e se tornou uma diretriz da educação no país. Todos sabem que sou crítico desse modelo e da forma como foi aplicado. São Paulo, cidade e estado, por iniciativa de Serra, percebeu o óbvio: introduzido o sistema, não poderia ser mudado da noite para o dia. O melhor seria tentar qualificar a escola, com a introdução de um segundo professor na fase de alfabetização. Essa foi apenas uma de séria de medidas corretas.
Quando candidato ao governo de São Paulo, em 2010, o agora ministro da Educação, Aloizio Mercadante, prometeu acabar com o que chamava de “aprovação automática”. No MEC, não vai mover uma palha para fazê-lo porque não é besta — a bestagem servia apenas para a campanha eleitoral. Russomanno adotou a tese. Se vencer e acabar mesmo com a prática, por decreto, vai punir as crianças da rede municipal, que migrarão para a estadual. A progressão continuada, na forma como foi aplicada, é uma tolice, mas a abordagem do candidato é bronca, desinformada, grotesca. E daí? Como, a rigor, não há candidatos conservadores na disputa, que possam fazer esse debate em seus justos termos, ele ocupa essa área.
Também é conservadorismo burro que está sendo exercitado quando ele promete pôr policiais dentro das escolas, prática que está em desacordo com os fundamentos da educação. Não que ordem e pedagogia sejam termos antitéticos. Ao contrário: eles podem e devem se combinar. Mas não é com a introdução da farda no ambiente escolar que se vai resolver o problema. Mas isso parece aos pais e mães pobres, preocupados com a segurança dos filhos, uma medida saneadora.
O candidato entrevistador
Trecho de uma reportagem da Folha, de Paulo Gama, diz um tanto sobre a candidatura Russomanno. Leiam:

(…)
O candidato irritou-se ao ser questionado sobre uma ação movida pelo Ministério Público Eleitoral por suposta compra de votos. O órgão questiona o fato de Russomanno ter orientado eleitores a procurar sua ONG de defesa do consumidor durante a campanha.
“A ONG trabalha gratuitamente. Fazer o bem agora é proibido? Responda para mim: garantir um direito individual e coletivo é compra de voto? Eu fiz uma pergunta para você, me responda por favor.”
Depois, disse à jornalista que o questionou que queria que um dia ela precisasse da ajuda de sua ONG.
Viram só? É possível que ele realmente não veja nada de errado em ser candidato e, ao mesmo tempo, ter uma ONG que “resolve” problemas dos eleitores, sustentada, segundo ele, com seus próprios recursos. Quais recursos? Do aluguel ao pagamento de água, luz, telefone e funcionários, quanto custa a benemerência?
Respondamos as suas perguntas:
Fazer o bem agora é proibido?
Não!

Garantir um direito individual e coletivo é compra de voto?
Não!
A menos, senhor Russomanno, que esse bom coração seja candidato. Aí, com efeito, trata-se de uma forma indireta de compra de voto porque o candidato está oferecendo ao eleitor um bem estimável em dinheiro. Se a repórter não soube responder as questões, respondo eu. O senhor está infringindo o Artigo 299 do Código Eleitoral (Lei 4.737), a saber:
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:
Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.
Encerro
Russomanno resiste porque está sabendo baratear o conservadorismo. E tem sido igualmente hábil em baratear o “progressismo”. O sonho dourado da imprensa haddadista é ver o petista a disputar um segundo turno com o rapaz do PRB. E aposta que os “iluministas” de araque, então, conseguirão conjurar as suas forças contra o atraso. Prefiro, é óbvio, que essa história tenha outro desfecho porque estaríamos diante do confronto de dois atrasos, que, de resto, estão de mãos dadas no governo federal.
Por Reinaldo Azevedo

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