quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A nova pesquisa Datafolha e mais calafrios na “inteligentsia” jornalística que achou que seria fácil pôr Fernando Haddad no trono. Não será!



A Folha desta quarta traz uma nova pesquisa Datafolha, realizada na segunda e na terça. Em relação ao levantamento da semana passada, Celso Russomanno (PRB) cresceu de 31% para 35%. O tucano José Serra e o petista Fernando Haddad oscilaram dentro da margem de erro, que é de três pontos para mais ou para menos: o candidato do PSDB passou de 22% para 21%, e o do PT, de 14% para 16%. Num eventual segundo turno, Russomanno venceria os dois, com, respectivamente, 58% a 30% e 56% a 30%. Gabriel Chalita, do PMDB, segue com 7%, e Sônia Francine, do PPS, com 5%. O candidato do PRB cresceu também no voto espontâneo: de 18% para 25%. O tucano manteve os 13%, e o petista oscilou de 9% para 11%.
Dados a serem levados em conta. Entre os 24% do eleitorado que declaram ter simpatia pelo PT, subiram de 29% para 33% os que dizem preferir Russomanno, e caíram de 40% para 37% os que dizem votar em Haddad. No grupo que acha o governo Dilma ótimo ou bom, o peerrebista bate o petista por 36% a 22%.
Depois de o prefeito Gilberto Kassab ficar debaixo de porrete durante mais de 15 dias, aconteceu o esperado: subiu a rejeição a seu governo, reprovado, informa o Datafolha, por metade dos entrevistados. E aqui também o PT e as fatias filopetistas do jornalismo foram colhidos de calça curta: entre os eleitores que reprovam a administração Kassab, 40% dizem preferir Russomanno a Haddad, que fica com apenas 17%. Entenderam o busílis? Aquela discurseira sobre o novo, o diferente de tudo o que está aí etc., por enquanto, está empurrando o eleitorado para o colo do afilhado de Edir Macedo. E o mais espantoso é que, por qualquer ângulo ou número que se queira, a gestão Kassab fez, sim, avanços notáveis. Ocorre que, nas urnas ao menos, a voz do povo pode não ser, mas vale pela voz de Deus.
Os quatro dedicados à desconstrução da gestão Kassab, feita com denodo militante por setores da imprensa — e não há como negar; basta ler o noticiário —, somados à campanha obscurantista contra Serra, podem entregar a Prefeitura da maior cidade do país a um tipo como Russomanno. É por isso que escrevi, no dia 30 de agosto, um texto intitulado Certos setores da imprensa paulistana passam as noites sonhando com Haddad e podem acordar na cama com Russomanno.
E a militância continuaE a militância anti-Serra na imprensa, claro!, continua. Porque virou um modo de ver a realidade. Sabem qual é a manchete da Folha? “Russomanno abre frente de 14 pontos sobre Serra em São Paulo.” É verdade. Na semana passada, era de 9. Ocorre que a diferença entre Russomanno e Haddad também subiu: de 17 para 19 pontos.
Num dos textos da Folha que tratam da pesquisa, leio o seguinte trecho:
“Kassab assumiu o posto em 2006 em substituição ao tucano José Serra, que na ocasião deixou a prefeitura para disputar o governo do Estado. Hoje o prefeito é um dos principais cabos eleitorais do tucano.”
Errado! Erradíssimo. E provo com a pesquisa Datafolha de 22 de outubro de 2008!!! Aquele Gilberto Kassab que assumiu a vaga quando Serra deixou a Prefeitura era aprovado, ao fim do mandato, por 59% dos eleitores. O prefeito que aí está não é o que assumiu em 2006, não! O prefeito que aí está é o que assumiu em 2009, depois de ter sido eleito em 2008 com mais de 60% dos votos.
Até Mauro Paulino e Alessandro Janoni, respectivamente, diretor-geral e diretor de pesquisas do Datafolha, com a responsabilidade que os cargos conferem a ambos, escrevem um texto em que se referem à queda “expressiva” nas intenções de voto do “candidato-padrinho” de Kassab. Não! Quem dirige um instituto e quem é seu diretor de pesquisas têm a obrigação de saber que o padrinho da eleição de Kassab em 2008 foi o eleitor de São Paulo.
Segundo turno do sonho ou do pesadelo?Há, assim, digo em tom de ironia, uma espécie de conspiração dos sábios que fez o seguinte cálculo: “Primeiro a gente elimina Serra e, em seguida, parte pra cima de Russomanno, tarefa que fica para o segundo turno, quando, então, ele pode ser moído”.
Vamos ver. Não acho que o jogo tenha sido jogado, e há ajustes que podem ser feitos na campanha de Serra — a questão é saber se serão feitos. De todo modo, elimine-se do horizonte a ilusão, qualquer que seja o adversário de Russomanno, de que será fácil tirá-lo do segundo turno ou mesmo vencê-lo.
Há um aspecto a ser considerado na candidatura do homem do PRB. Se ele conseguiu razoável penetração no eleitorado petista, não é menos verdade que sabe fazer um discurso de viés conservador, ainda que possa assumir uma feição meio caricata — tanto quanto Haddad é uma caricatura de progressismo… Os sábios comecem a pôr as barbas de molho. Caso o petista vá para o segundo turno, as suas chances podem ser maiores contra Serra do que contra Russomanno.
O sonho dos ditos progressistas pode se tornar um pesadelo.
Por Reinaldo Azevedo

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