A revista Carta Capital de 19 de outubro de 2011, publicou uma série de aleivosias gratuitas ao Manual de Campanha do exército, documento sigiloso que deve ter sido desviado por algum quinta coluna para as mãos do foca da revista citada. O Cel Jorge Alberto Ferrer Garcia, reformado do EB escreveu-lhe, com muita propriedade, a carta aberta abaixo cortesia do GRUPO GUARARAPES.
Nota do Editor
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TODO O EXÉRCITO AGRADECE AO CORONEL JORGE ALBERTO FORRER GARCIA A RESPOSTA
DADA À REVISTA CARTA CAPITAL. OBJETIVA, PRECISA, DIRETA E EDUCADA QUE BEM
MOSTRA A FINA FORMAÇÃO DO MILITAR BRASILEIRO. A REVISTA QUE É ESPECIALIZADA
EM ATACAR DEVERIA SER ÉTICA EM PUBLICAR A DEFESA DO CORONEL JORGE ALBERTO.
A IMPRENSA
INFORMA E INFORMAR É DIZER A VERDADE DOS DOIS LADOS E NÃO DE UM LADO SÓ.
ABRAÇOS DO GRUPO GUARARAPES
Gen Dv Ref Francisco Torres de Melo, Coordenador do Grupo Guararapes.
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Senhor LEANDRO FORTES, repórter da revista Carta Capital. Sobre reportagem
de sua autoria na edição n° 668, de 19 de outubro de 2011, gostaria de
levar ao seu conhecimento que se segue:
Uma vez que o senhor leu, mesmo que por alto, esse Manual de Campanha que
tanto detrata em sua reportagem, deve então saber que seu trabalho
enquadra-se na técnica de propaganda conhecida como “propaganda
divisionista”. Isto é, um textozinho que se mostra indisfarçável na sua
intenção de atingir os militares, com o intuito de afastá-los ou
indispô-los contra a sociedade. Por isso, divisionista.
Usando uma técnica de contrapropaganda que senhor conhece, vou tentar
rebater ponto a ponto , parágrafo por parágrafo, as insanidades por você
escritas, mas sei que, como nas tantas outras reportagens do estilo dessa
sua, que nem novidade é, será gastar muita pólvora com tico-tico.
Começo pelo fim. Quando o senhor desconsidera o Centro de Comunicação
Social do Exército (CCOMSEx) que teria terminado uma nota à sua revista com
o que o senhor considera como uma ameaça, saiba (sim, porque o senhor
provou que não sabe) que o que ali está dito nada mais é do que um
parágrafo do Decreto nº 4.553, de 27 de dezembro de 2002 (Dispõe sobre a
salvaguarda de dados, informações, documentos e materiais sigilosos de
interesse da segurança da sociedade e do Estado...) assinado pelo então
presidente Lula. Diz o Decreto: Art° 37 – Parágrafo 1°... “Todo aquele que
tiver conhecimento, nos termos deste Decreto, de assuntos sigilosos, fica
sujeito às sanções administrativas, civis e penais, decorrentes da eventual
divulgação dos mesmos.” e Art° 65 “Toda e qualquer pessoa que tome
conhecimento de documento sigiloso, nos termos deste Decreto fica,
automaticamente, responsável pela preservação do seu sigilo.”
Portanto senhor jornalista, não se trata de ameaça, senão do cumprimento do
que a lei preconiza. Caso o senhor não goste da lei, vá queixar-se a quem a
fez e a sancionou, e não venha com insinuações de baixo nível para cima de
quem a cumpre.
Quanto ao título de sua reportagem – caso o senhor tenha realmente estudado
o manual, como os militares que, por dever de ofício o fazem, trata-se de
uma “generalização brilhante”, pois emprega a palavra “nós” para iludir
seus leitores. O senhor não tem procuração minha para falar em meu nome e,
certamente, no nome de tantos outros brasileiros. Ao dizer “Nós, os
inimigos”, o senhor peca novamente, por generalizar indevidamente. Eu,
assim como tantos outros brasileiros, não me considero um inimigo do
Exército.
Quando o senhor emprega erroneamente o conceito de “Forças Adversas”,
deveria ter procurado saber que esse conceito veio justamente para acabar
com a antiga expressão “inimigo interno”, antigamente usada para referência
às forças citadas no manual e que tem potencial para perturbar a lei e a
ordem. Como devia ser de seu conhecimento, a Constituição de 1988 atribuiu
como uma das missões das Forças Armadas “a garantia da Lei e da Ordem.”
Então, cabe aos militares estudar o adversário, sob pena de prevaricar de
seu dever de estarem sempre preparados para cumprir com seus deveres
constitucionais. O senhor como cidadão, o que diria se as Forças Armadas,
particularmente o Exército, fossem chamadas a cumprir seu dever e fossem
“apanhadas com as calças na mão”?
O manual ao que o senhor se refere não foi classificado internamente como
“Reservado”. Ele foi classificado como manda a lei, ou seja, como manda o
Decreto a que já me referi. No meu entender, acho até baixa a classificação
sigilosa que lhe foi atribuída de “Reservado”. Caberia muito bem a
classificação “Confidencial”, o que lhe restringiria mais um pouco a
circulação. Talvez assim, jornalistas tendenciosos e mal informados como o
senhor não tivessem acesso ao documento. Saiba que a classificação
“Reservado” foi atribuída para facilitar a circulação “interna corporis”.
Porém, como em outras profissões, como a sua por exemplo, existem os maus
militares e – com toda a certeza – foi um desses que lhe facilitou o acesso
ao manual.
Saiba que se for para defender a Pátria não incomoda aos militares serem
chamados de paranoicos. Não mesmo. O que interessa aos militares é cumprir
a missão. Quanto a existirem movimentos sociais, ONG e órgãos
governamentais com inspiração adversa ao País como pátria e nação, somente
um ignorante pode admitir que não existam. Pelo fato dessa minha carta ser
destinado ao senhor, deixo de citar algumas dessas organizações, mas o
senhor, que se considera esperto, deve admitir que elas existem. Certos
países, bem mais desenvolvidos que o nosso, continuam adotando a expressão
“inimigos internos” (“...foreign and domestic enemies...”). O Exército,
para ser coerente com a evolução social do País, adotou a expressão “Força
adversa”, deixando a “Força oponente” apenas para os “foreign”, ou seja,
para os inimigos estrangeiros.
Quanto ao manual ter sido aprovado por um oficial-general chefe do
estado-maior do Exército, espanta-me partir de um jornalista esta alusão.
Talvez quisesse o senhor que um manual desse nível fosse aprovado pelo
“cabo das baias”? Mas no Exército não é assim. No Exército é: “A cada um
segundo seus méritos. A cada um segundo suas responsabilidades.” E não
passou desapercebida a exploração totalmente desnecessária que a revista
fez da imagem de um familiar do General. Qualquer “zé mané” em edição
gráfica saberia recortar a foto e publicar apenas a imagem do
oficial-general, que, aliás, desfruta de elevado respeito na Força e das
pessoas que com ele trabalharam.
O senhor goza de igual respeito senhor jornalista?
Quando o senhor fala de “expediente vetado a arapongas militares desde a
Constituição de 1988”, vê-se que nem a Constituição o senhor conhece, pois
não há nada nela que trate do assunto. Quando seu textinho fala de
“política de infiltração de agentes de inteligência militar em organizações
civis, notadamente movimentos sociais e sindicatos...”, saiba que não
existe política nenhuma a esse respeito. A conclusão esdrúxula é de sua
total responsabilidade, tentando enganar seus leitores. O senhor mesmo ao
reproduzir parte do manual com alusão a essas palavras e ações, diz que se
trata do “4-6 Medidas de Contra Espionagem”, quais sejam, medidas que podem
ser adotadas para evitar a espionagem adversa ou oponente. Seria o senhor
jornalista tão ingênuo que achasse que o Brasil ou uma instituição nacional
como o Exército estariam infensos à espionagem? Deixo de falar pelo Brasil,
por não me sentir seguro para tal, mas saiba o senhor que o Exército já foi
alvo de tentativas de infiltração por integrantes de “forças adversas”,
como o crime organizado, por exemplo, ou, no seu entender, o crime
organizado não pode ser chamado de “força adversa”?
Sobre o uso do que preconiza o manual para orientar ações disciplinares
contra oficiais da Força, queria que o senhor soubesse que as Forças
Armadas dispõem de outro manual muito eficaz para essa finalidade que é o
Regulamento Disciplinar. O manual que o senhor tropegamente explora apenas
diz os cuidados que se deve ter para com o chamado “inimigo na trincheira”,
alusão àqueles militares que, desajustados na profissão, passam da posição
de lealdade para a de verdadeiros agentes de forças adversas: tornam-se
informantes de alguns órgãos, tentam inverter a cadeia de comando, tentam
criar hierarquias paralelas, ou envolvem-se com corrupção. Ou, no seu
entender, pessoas que agem assim não podem ser chamadas de “elementos
adversos”?
Quando o senhor faz referência à Escola Superior de Guerra, dá outra prova
de total ignorância sobre o que está tratando, uma vez que a ESG nada tem a
ver com o manual. Desafio-o a encontrar uma só referência à ESG no corpo do
manual. A ESG trabalha numa outra esfera de atribuições, tão importantes
que não lhe deixa tempo para tratar de um manual de campanha do Exército.
Como se diz “no popular”, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra
coisa.
Em seguida, esse jornalista, consoante o tom divisionista que adota em todo
o seu textinho, procura mostrar que foi a Carta Capital que levou ao
conhecimento do Ministro da Defesa e existência do manual de Contra
Inteligência e que o ministro – nada além de sua obrigação – consultou os
comandantes militares a respeito. Repito, se fez, fez apenas sua obrigação.
Ou esse jornalista acha que a cada ministro da defesa que assume, tem-se
que dar conhecimento a ele de todos os manuais que as Forças usam? No
Exército existem manuais que ensinam como conduzir um cavalo à mão, como
ajustar o tiro de Artilharia por combatente de qualquer arma, como calcular
cargas de explosivos para trabalhos de engenharia, outro sobre toques de
corneta e clarim. Será que o ministro terá interesse em saber o que mais
consta deles? Deixar de regular a sua atividade profissional, para uma
Força Armada é prevaricar. Quanto ao fato de o manual ter sido distribuído
à Marinha e à Força Aérea, o jornalista, se tivesse estudado o assunto
antes de escrever besteiras, saberia que é uma prática comum entre as
Forças Armadas trocar entre si manuais doutrinários sobre assunto que seus
respectivos órgão geradores de doutrina julguem serem de interesse mútuo.
Esse jornalista faz referência a Pandiá Calógeras como se ele representasse
a submissão dos militares ao poder civil, quando, na verdade, pelo menos no
âmbito do Exército, Pandiá é tido como um dos melhores ministros da guerra
que a Força teve. Até hoje existem espalhados pelo Brasil quartéis
construídos num formato padronizado no tempo de Pandiá Calógeras. Não
importa se o ministro é da guerra ou da defesa. O que importa é que ele
entenda para que existem as Forças e as respeitem quanto ao seu emprego. Já
tivemos ministros que nem sabiam a diferença entre um blindado e um
carro-forte.
Caso o senhor tivesse lido e entendido o texto do manual, sem a intenção de
explorar trechos fora do contexto, teria observado que no capítulo sobre a
Contraespionagem, no que se refere à Segurança Ativa, está-se tratando da
espionagem numa das acepções da palavra, a que trata da espionagem
estrangeira no Brasil, de modo a orientar os militares brasileiros sobre o
modo como, via de regra, os serviços de Inteligência estrangeiros atuam...
e o senhor, como jornalista, deveria saber que eles atuam exatamente como o
ali descrito. Ou o senhor imagina que um adido militar em serviço no Brasil
vem para cá somente para admirar nossas belas paisagens? Eles recrutam
brasileiros e depois os infiltram onde querem. Sobre controle da Imprensa,
saiba o senhor que, infelizmente, essa própria reportagem sua será lida
pelos adidos militares em serviço no Brasil e será por eles repassada a
seus países de origem, com comentários sobre a insistência da Imprensa
brasileira em atacar suas Forças Armadas com a clara intenção de afastá-las
da sociedade e aqueles adidos que não conheciam o manual certamente agora
vão procurá-lo completo, para conhecer como funciona a contra inteligência
do Exército. Quer dizer, o senhor como jornalista brasileiro acaba de
prestar um duplo desserviço para com seu próprio País. Aproveitando, a
respeito do acompanhamento de militares estrangeiros no Brasil, imagine
que, certa vez, pousou, em uma cidade importante, à noite, um avião militar
estrangeiro. Um militar desceu e imediatamente tomou um carro alugado que
estava à sua espera. Foi direto para Anápolis/GO. Anápolis/GO abriga a base
aérea responsável pela defesa aérea do Planalto Central do Brasil. Ainda,
como há algum tempo atrás não se fizesse esse acompanhamento, quando ele
foi reativado, descobriu-se, em outra cidade importante, um oficial de país
estrangeiro que estava há seis anos no Brasil. Tinha até montado uma
empresa em bairro nobre da cidade. Isto, da parte do Exército, não é
espionagem. É acompanhamento.
Quando o manual fala em “público interno”, incluindo pessoal da ativa, da
reserva, reformados e familiares de todo esse grupo, não se trata de
incluir civis no sistema de Inteligência e sim delimitar o universo de
pessoas que são influenciadas e influenciam de forma mais direta nas
decisões da Força. Imagina o senhor que, por exemplo, uma restrição ou
modificação inesperada no sistema de saúde do Exército não virá a
influenciar a todos, inclusive os da ativa? Posso lhe dar outro exemplo:
minha filha cursava o primário num colégio particular em São Paulo. Certo
dia, a classe dela foi realizar um passeio de van. Sabe aonde o colégio a
levou? Para a frente da 36ª Delegacia de Polícia. E sabe o que foi dito
pela professora às crianças? Que ali funcionara um centro de repressão da
ditadura e era onde muitas pessoas tinham sofrido torturas. O senhor veja
só senhor jornalista. Crianças de curso primário. É lógico que minha filha
ao chegar em casa questionou-me a respeito. Isso a torna uma “agente de
Inteligência” sem missão definida, no dizer de suas palavras? A esposa de
militar da Reserva, ambos com idade avançada, recebe um encaminhamento
hospitalar para uma organização civil de saúde e lá ambos são destratados e
mal atendidos. Ele vai ao hospital militar que o encaminhou e faz uma
reclamação contra a clínica. Isso os torna “agentes de Inteligência” sem
missão definida? O que ele está fazendo nada mais é do que defendendo o
Sistema Exército, dando conta um contrato mal cumprido por uma das partes.
Reconhecendo que não devo ter o alcance intelectual desse jornalista, não
consigo entender o enfoque que o senhor dá à expressão “público externo”.
Se o outro universo foi definido como público interno, o há de errado em
considerar as pessoas que estão fora desse grupo de público externo? Até
onde eu sei, o que não é interno é externo.
Entenda que – historicamente – o Exército sempre esteve ao lado do povo
que, por sua vez, sempre pode contar com ele quando precisou. Isso é
História senhor jornalista. O senhor precisa ler melhores livros. Por mais
que os livros de história modernos tentem deturpar a História, os livros
clássicos sempre ficam, a menos que alguém já os esteja queimando, como
fizeram os nazistas, e eu não saiba.
Novamente, o senhor se esmera em parecer pouco informado ao tentar
desclassificar a preocupação que a Força tem com a espionagem em suas
próprias fileiras. O senhor deveria saber que a espionagem é um fato, um
ato deliberado de quem quer alguma coisa. Até ladrões não partem para um
assalto sem colher o máximo de informações sobre seu alvo e, se possível,
procuram contar com as chamadas “informações internas”. O senhor saberia
dizer-me por que o Exército estaria livre desse tipo de ação? Hilário não é
o manual. Hilário é quem menospreza as medidas tomadas pela Instituição em
defesa de si própria. Agir diferentemente disso não seria, no seu entender,
prevaricar no exercício do dever?
Um agente infiltrado por uma ação de espionagem não tem nada a ver com
“inocente útil”, como o senhor afirma. Um “inocente útil” pode ser um
jornalista que, por meio de suas reportagens, esteja a serviço de uma
ideologia ou de grupos que o influenciam em suas reportagens em benefício
próprio. Este é o “inocente útil”.
Quanto ao Exército acompanhar seu público interno, não consigo ver onde
estaria o erro. Conto uma história: certa vez observou-se um militar que,
do dia para a noite, trocou seu “corsinha” 1.0 para um Toyota Camry.
Primeiro, procurou-se ver se ele tinha ganhado algum prêmio ou concurso.
Depois, verificou-se que ele financiara a compra do novo carro em
prestações, que, com seu soldo, ele não poderia pagar. A fonte do dinheiro
era sua esposa, que praticava fraudes na área do turismo. Então, senhor
jornalista, onde está o mal da instituição em proteger-se ao procurar saber
da cumplicidade de um seu integrante numa fraude rendosa?
Sobre a Contra Inteligência Interna, quando o senhor escreve que a norma
tem servido para enquadrar militares que caíram em desgraça dentro do
Exército, eu preferiria dizer “militares que se mostraram desadaptados à
profissão que escolheram” e o lembraria que a expulsão não é um risco. A
expulsão é um ato disciplinar previsto e quem quer agir de modo contrário
às normas vigentes assume o ônus por seu comportamento. Sobre o capitão ao
qual o senhor se refere não vou fazer outros comentários. Apenas, acho que
por ainda estar no serviço ativo do Exército, ele somente deveria se deixar
fotografar com a barba feita e não se deixar fotografar tendo como fundo
uma estátua de um militar. Quer dizer: provocação pura! E nem esse
jornalista deveria insinuar algo de anormal no atropelamento do militar,
dizendo que o carro que o atropelou jamais foi identificado. O Exército
ainda não tem a função de controlar as ruas da cidade. É possível que ainda
venha a ter. Afinal... é tanta missão fora da sua destinação
constitucional. Sobre as estórias do capitão, sugiro que esse jornalista
consulte os inquéritos a respeito. Caso algum deles tenha alguma
classificação sigilosa, não se intimide em descumprir a lei, publique-os. A
lei que protege documentos aos quais foi atribuído algum grau de sigilo não
tem importância para o senhor, no melhor estilo: “ A lei? Ora, a lei!”
Em seguida o senhor volta à questão das “forças e/ou elementos adversos”.
Senão vejamos. Para uma Força que tem a destinação constitucional de
garantir a lei e a ordem, não é lícito conhecer quem:
-pratica ocupação e invasão de áreas públicas e/ou privadas: o senhor
desconhece que isso aconteça em nosso País quase que semanalmente?
- bloqueio de vias de circulação: são índios cobrando pedágios ou queimando
pneus em vias federais. São movimentos sociais ocupando praças de pedágio,
causando atritos com as autoridades, sendo necessário o uso de armas de
fogo.
- promoção de greves em setores essenciais: o senhor mesmo cita a recente
greve dos correios. O senhor como um cidadão brasileiro, não julga que, num
exercício de pensamento, caso a greve dos correios persistisse, não
faltaria um gaiato para pedir que o Exército Brasileiro, por sua
capilaridade em todo o território nacional, assumisse a entrega da
gigantesca demanda acumulada? É possível, pois veja: já somos chamados a
distribuir água no Nordeste, patrulhar o Morro do Alemão, a ser guardas de
parque na Marambaia, a vacinar cachorros, combater focos do mosquito da
dengue, a combater incêndios em Roraima...por que não entregar cartas? Por
fim, nesse parágrafo, por sua própria conclusão, cita um movimento social
como “inimigo”. Outra vez lanço o desafio para que esse jornalista mostre
no manual onde está escrito que o Exército tem esse movimento social como
“inimigo”. A inferência e o uso dessa palavra é totalmente sua, provando
sua má-fé no trato do assunto.
Quando esse jornalista trata do Terrorismo, aí então, outra vez, demonstra
seu total desinteresse em informar seus leitores, senão o de atingir a
credibilidade de uma publicação de responsabilidade do Exército. Caso, mais
uma vez, o senhor tivesse lido com atenção o manual, na parte que se refere
ao Terrorismo, teria observado que certas organizações seriam sim
consideradas terroristas se, e tão somente se, recorressem a atos
terroristas para provar suas ideias. Como fizeram os palestinos durante
muito tempo, como fizeram os militantes contra o aborto nos Estados Unidos,
como o fez por muito tempo o Sendero Luminoso no Peru, como fazem as FARC
na Colômbia. Todos são movimentos sociais, mas recorreram a atos
terroristas. E mais, o senhor como jornalista interessado nesses assuntos
deve saber o motivo de – até a data de hoje – o Brasil não dispor de uma
lei antiterrorista. Sabe por quê? Por que as autoridades não se entendem
sobre a definição de “organização terrorista” pois, a serem considerados os
conceitos universais de organização terrorista, certo “movimento social”
como o senhor escreve teria de ser enquadrado naquela definição. E aí como
é que fica? Como em tantos outros assuntos, as autoridades preferem fechar
os olhos. Não há lobby do Exército para a aprovação uma lei antiterrorismo.
O que o Exército quer é conhecer o oponente, senão, como combatê-lo? A
exemplo de outros países, pode sim ser necessária uma legislação especial
para poder-se dar combate aos terroristas. Haja vista os Estados Unidos
que, imediatamente após os ataques terroristas de “11 de Setembro”,
instituiram o chamado Ato Patriótico, uma lei de exceção no melhor estilo.
Mais uma vez o senhor se esmera em descontextualizar o texto do manual ao
escrever que ali está dito que, se necessário, controlar os meios de
comunicação, já que a decisão de difundir deve estar centralizada no mais
alto nível da Força. Aqui admito que o texto do manual quis dizer uma coisa
mas transmitiu outra ideia. Está-se falando de atividades terroristas. O
assunto assumiu tamanha importância depois do “11 de Setembro” que a
consequência foi uma severa preocupação com esse tipo de atividade. Daí a
necessidade de não se reportar alarmes que, depois, podem mostrar-se de
menor significação, alertando ou até causando pânico na população
desnecessariamente. Quanto ao verbo “difundir”, quero crer que as pessoas
que escreveram o texto usaram-no na acepção que ele tem na Inteligência, ou
seja, dar conhecimento a agências externas ao Sistema Exército. Não fosse
assim, as agências de Inteligência mais periféricas do Sistema de
Inteligência do Exército poderiam sentir-se livres para difundir –
regionalmente – possíveis dados sobre ações terroristas, com consequências
que poderiam não ser as desejáveis.
No que diz respeito ao Estudo de Situação de Contra Inteligência, no que
diz respeito ao campo político, volto a dizer, se esse jornalista tivesse
tido o cuidado em contextualizar as coisas talvez pudesse ter transmitido
aos leitores o espírito do que ali está escrito. Imagine o senhor se um
oficial ou sargento vai comandar uma organização militar em alguma cidade
de médio ou pequeno porte sem inteirar-se das características políticas do
local. Ele poderá ser instrumentalizado pelas forças no poder, poderá ser
envolvido em rixas entre grupos, é possível que venha a sofrer coações ou
se tente influenciá-los, para o bem ou para o mal. Existem cidades que amam
seus quartéis, já em outras, conforme a localização do quartel em área de
elevado valor imobiliário ele pode ser alvo de campanhas para a sua
transferência para área menos valorizada. Sobre o conhecimento que se deve
ter sobre as organizações de trabalhadores na área de interesse da
organização militar, como os sindicatos, pelo senhor citados, imagine o
Comandante de um quartel localizado no ABC Paulista, ao avaliar sua área de
atuação, deixar de considerar a força representada por aquelas entidades.
Alguém que vá comandar um quartel incrustrado numa área indígena tem, por
obrigação, saber como a FUNAI, por exemplo, atua na área e quais as ONG ali
atuantes e que desrespeitam as leis brasileiras. O que de errado há nisso?
No meu modo de ver, isso é “agir profissionalmente”.
Encerrando, apliquei nessas minhas considerações algumas das técnicas que o
senhor mesmo alude no seu textinho. Procurei desacreditá-lo, procurei
colocá-lo em posição de inferioridade e, acima de tudo procurei, usando a
técnica de rebater ponto por ponto, ridicularizar essa sua peça de
propaganda ideológica. Uma técnica que eu não usaria nesse caso seria a do
“silêncio”, mesmo sabendo que a reportagem de hoje embrulha o peixe de
amanhã.
Eu, como militar da Reserva tenho a prerrogativa de manifestar a minha
opinião, o que é vedado ao pessoal da ativa. Mas isto não quer dizer que
falo por eles. Falo por mim e sou o único responsável por tudo o que
escrevi.
Muitas instituições nacionais e estaduais, com certeza, mais de quinze,
procuram absorver os conceitos do Manual de Contra Inteligência do
Exército, por julgarem-no muito bem elaborado, e copiam dele procedimentos
que lhes podem ser úteis.
Qualquer país estaria orgulhoso se seu exército dispusesse de semelhante
manual. Mas, aqui no Brasil, o que se quer é atacar o Exército nas coisas
que ele tem de melhor. Uma delas, o seu Serviço de Inteligência.
Sr. LEANDRO FORTES. Não sei se o senhor é mais novo ou mais velho do que
eu. Caso seja mais novo, aceite um conselho: não ponha a sua pena a serviço
da ideologia. Se for mais velho, ainda dá tempo de estudar a História do
Brasil nos livros antigos que o senhor ainda deve ter.
Escrevi essa carta aberta em respeito à minha condição de militar da
Reserva e em homenagem aos oficiais mais novos, da ativa, para que não
esmoreçam diante da propaganda divisionista de que somos alvo, quase que
diariamente. Saibam que esse tipo de reportagem nos acompanha há cerca de
30 (trinta) anos e, ao contrário de nos dividir, só tem fortalecido o
sistema de Inteligência do Exército. Ou melhor, do Exército não. Do Brasil,
pois o Exército pertence ao Brasil.
Jorge Alberto Forrer Garcia Coronel Reformado
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