Pobre oposição na Venezuela. Jogar as regras do jogo dentro de uma virtual ditadura é um caminho áspero, como sabem os brasileiros que acreditavam no então MDB e nas enormes dificuldades que o partido, seus candidatos e adeptos encontravam durante o regime militar.
E as regras, mais as circunstâncias, são todas esmagadoramente voltadas para no próximo dia 14 eleger a qualquer custo Nicolás Maduro, o vice-presidente biônico indicado pelo falecido coronel Hugo Chávez que se tornou presidente interino com a morte do caudilho, no dia 5 de março.
Vejam só como a coisa tem funcionado: a campanha presidencial só começou oficialmente anteontem, dia 2 de abril, e terminará na próxima quinta-feira, dia 11 — dentro de uma semana. O candidato da oposição unida, Henrique Capriles, só está tendo, portanto, míseros 10 dias para fazer propaganda na TV, comícios e outros eventos. Enquanto isso, Maduro está em campanha “não-oficial” desde meses antes da morte de Chávez, com massacrante cobertura da dominante mídia oficial para cada passo, cada declaração, cada ato público de que participou, fosse a inauguração de uma granja de frangos ou uma declaração sobre a saúde do chefe.
Morto o caudilho, a mídia oficial transmitiu a comoção popular, o velório e os traslados do corpo de Chávez e mais as falas e atitudes de Maduro durante as duas semanas seguintes, 24 horas por dia. O país está soterrado de cartazes, vídeos e sons de Chávez. Nos comícios de Maduro, por exemplo, ele fala o tempo todo do falecido coronel, jura e repete que é seu “filho” e leva multidões ao delírio quando faz soar a voz de Chávez — entre outras coisas, cantando o hino nacional.
A coisa toda, do lado do ex-motorista de ônibus e ex-sindicalista que Chávez tornou chanceler em 2006, chega a extremos espantosos sem que Maduro mova um músculo da face diante do grotesco e do ridículo, como a história da “reencarnação” de Chávez num… passarinho. A história, contou-a o próprio Maduro na abertura oficial de sua campanha.
Estaria o candidato rezando “numa capelinha de madeira” (não se sabe por que de madeira) quando, pela janela, entrou “um passarinho pequenininho” que, após dar exatas três voltas sobre sua cabeça, pousou e começou a cantar. Maduro assoviou para o bichinho e jura que, nele, “sentiu o espírito” de Chávez, sentiu-o em sua “alma” — e mais: o passarinho-caudilho lhe disse que, naquele dia, “começa a batalha, rumo à vitória”.
É esse tipo de demagogo vulgar, cuja principal virtude sempre foi a vassalagem a Chávez, que poderá ser o presidente de um dos países mais importantes da América Latina e em cujo solo repousam as maiores reservas de petróleo do planeta.
Tags: Hugo Chávez, Venezuela
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