sábado, 18 de fevereiro de 2012

A BATALHA PELOS CAÇAS PARA A FORÇA AÉREA BRASILEIRA


Para Saab, batalha dos caças não está perdida

Rumores apontam que o governo teria voltado a negociar a compra das aeronaves francesas Rafale; empresa sueca, no entanto, mantém o otimismo

Ana Clara Costa
Caça Gripen, da sueca SAAB
Saab diz ter atendido todas as exigências do governo e mostra otimismo com o Gripen (Johan Nilsson/AFP)
Desde que a francesa Dassault fechou contrato para venda de 126 caças Rafale à Índia, a discussão sobre a licitação brasileira foi reacendida. Tudo porque o ministro da Defesa, Celso Amorim, dirigiu-se a Nova Délhi logo após a decisão e pôde pedir esclarecimentos diretos a seu homólogo indiano sobre a escolha. De lá para cá, fontes dos governos francês e brasileiro, ouvidos pelas agências de notícias, têm apontado que os Rafale serão a opção também do Palácio do Planalto. Na mesa de negociação, as outras fabricantes – que aguardam com certa ansiedade o desfecho da novela militar que já dura mais de quatro anos – recusam-se a desistir. Uma delas é a sueca Saab, que fabrica o caça Gripen. Ao site de VEJA, Bengt Janer, diretor da Saab-Brasil, garante que a companhia continua no páreo. Ainda que reconheça que a Suécia não dispõe do mesmo peso político dos Estados Unidos (sede da Boeing) e da França, o executivo demonstra confiança em que a sua é a melhor proposta.
Há cerca de dois anos, a Saab foi a companhia que obteve a melhor avaliação da Força Aérea Brasileira (FAB) no processo de licitação dos caças. Contudo, a opinião do órgão, por incrível que pareça, não é determinante na escolha. Tanto que a venda quase foi fechada em 2009 para a Dassault porque o ex-presidente Lula passava por uma espécie de “lua de mel” diplomática com o líder francês, Nicolas Sarkozy. Depois que as conversas entre ambos azedaram, a Boeing – outra empresa que participa da licitação com seus F-18 Super Hornet – intensificou seu lobby. Já no governo Dilma, a movimentação ganhou o apoio de um garoto-propaganda e tanto: o próprio presidente Barack Obama, durante visita oficial ao país, no início de 2011.
Desde então, o processo de licitação foi atropelado por cortes orçamentários, faxina nos Ministérios e problemas de ordem macroeconômica. A presidente Dilma decidiu, então, a deixar o assunto para depois. Mas essa fase pode estar no fim. De acordo com Janer, a expectativa da Saab é que algum tipo de definição saia já neste primeiro semestre. “Até onde sabemos, a decisão está na mesa da presidente", afirmou o executivo em entrevista ao site de VEJA.  "Fizemos tudo o que o governo pediu para essa licitação – e justamente por isso estou confiante de que estamos bem no projeto."
A visita do ministro Celso Amorim à Índia para conversar sobre o Rafale não alterou o andamento do processo de licitação, colocando novamente a Dassault em vantagem?
A visita, na nossa avaliação, foi uma coincidência. Viagens de ministros são planejadas com antecedência. Eles têm uma agenda a cumprir e não decidem uma coisa como essa do dia para a noite só porque um contrato de compra foi fechado na Índia. Além do mais, essa é uma decisão da presidente Dilma.
Em que estágio estão as negociações para a compra dos caças?
Até onde sabemos, a decisão está na mesa da presidente. Não há novidades sobre isso desde o início do ano passado, quando o governo afirmou que a licitação estava paralisada. Contudo, temos a expectativa de que haja uma decisão ainda no primeiro semestre.
Quais parcerias a Saab tem desenvolvido no Brasil no setor de Defesa?
Criamos no ano passado, em parceria com o governo sueco, o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CIBS), em São Bernardo do Campo (SP). A função desse centro é desenvolver projetos em parceria com universidades, empresas privadas e órgãos públicos – de modo a trazer ao país ideias inovadoras que surjam na Suécia e que possam melhorar o cotidiano da população. São projetos para as áreas de energia limpa, segurança pública e sustentabilidade. O curioso é que muitos deles vêm da indústria da Defesa e depois são aplicados ao dia a dia das pessoas. Além disso, oferecemos cem bolsas de estudos para brasileiros irem estudar na Suécia. Em resumo, estamos claramente administrando o centro como forma de buscar uma parceria de longo prazo com o Brasil, o que independe, inclusive, do resultado da licitação dos caças.
O contrato da Saab com a Suíça, fechado também recentemente, pode ter algum efeito na escolha brasileira?
Espero que tenha um efeito positivo, pois o que propusemos é que a transferência de tecnologia permita até mesmo que a produção brasileira seja utilizada pela Suíça. Nossa proposta é de parceria total, em que 40% do desenvolvimento da aeronave e 80% da estrutura do caça sejam feitos no Brasil. Nossa ideia é estabelecer uma parceria entre a Saab e a indústria nacional brasileira para vender aeronaves para outros países. E a nossa política de transferência de tecnologia é a mais adequada ao que o Palácio do Planalto quer.
Mas há o fator político.
Sim, a Suécia talvez não tenha o peso político dos Estados Unidos ou do outro país (a França). Contudo, a tecnologia que temos e estamos dispostos a compartilhar é adequada às necessidades do Brasil. Nós ouvimos muitas vezes que a presidente Dilma quer que a parte de inovação seja desenvolvida no país e que as parcerias são essenciais. Foi isso que propusemos. Fizemos tudo o que o governo pediu para essa licitação – e justamente por isso estou confiante de que estamos bem no projeto.

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