terça-feira, 24 de janeiro de 2012

FHC sonha com Lula para unir PSDB com PT. Nem precisa Freud explicar.


CoronelLeaks


Para acessar a entrevista de FHC para a The Economist, vá até o eAgora.org,br, clicando aqui. A matéria, além de longa, é reveladora. Abaixo, um pedaço:

The Economist: Você tem uma relação muito interessante com a presidente. Vocês dois parecem ter criado um novo relacionamento entre ex-presidente e presidente.

Cardoso: Porque Lula perdeu a oportunidade de fazer isso. Eu tinha uma relação pessoal antiga com Lula. Fomos muito próximos. Ele passou férias na minha casa de praia com sua família. Mas não tivemos relação institucional, porque essa foi a decisão do PT. Mas isso foi por causa da política eleitoral. Dilma é diferente. Ela não tem ligação pessoal comigo, é um relacionamento muito mais superficial do que foi com Lula. Talvez ela ainda não se veja – pelo menos até agora – como candidata, de modo que ela não encara outras pessoas como inimigos. Não sei, mas ela tem sido sempre muito correta comigo. Por coincidência, tive um sonho na noita passada, em que nós – Lula e eu – propunhamos juntos um consenso nacional. [risos] É tão óbvio que o Brasil precisa se concentrar em algumas coisas fundamentais. Que fazer com a energia? Que fazer com a educação? Como criar melhores oportunidades para nossa infraestrutura, com o governo e o setor privado trabalhando juntos? Como chegar a um consenso sobre o meio ambiente? É tão óbvio. Essas não são questões partidárias, mas nacionais.

The Economist: Consensos nacional tende a acontecer em tempos de crise…
Cardoso: É por isso que não acontece. Por outro lado, há uma espécie de acordo não-explícito. Quando Lula assumiu a presidência o mundo acreditou que ele destruiria tudo o que eu tinha feito. E ele não destruiu – sem ser explícito. Quando eu vivi no Chile [durante o período da ditadura militar no Brasil] os democratas-cristão e socialistas eram adversários, os socialistas muito mais à esquerda e os democratas-cristãos muito mais conservadores. Depois eles convergiram para criar uma força unida, a Concertación. Nós não fizemos assim. Mas na prática estamos fazendo a mesma coisa, em alguma medida. O discurso eleitoral é diferente, claro, porque você tem que sinalizar que é diferente. Mas na prática não é – o que dificulta a oposição.

The Economist: Sobre o tema da oposição, vou dizer francamente que achei a campanha do PSDB para presidente em 2010 muito fraca. O partido vai ser mais combativo e 2014 e apresentar um candidato em torno do qual possa se unir? Ele tem uma estratégia clara? Ou vai apenas brigar internamente e rachar?
Cardoso: Na última campanha o PSDB teve equívocos enormes. No começo o favorito era nosso candidato ]José Serra], disparado. E em vez de organizar alianças – porque é mais fácil criar alianças quando se está por cima, porque os partidos querem estar junto com o vencedor, como eu disse antes – nós não fizemos isso. Nosso candidato ficou isolado, até internamente.

The Economist: Ficou isolado ou isolou-se? Ele afastou os outros?
Cardoso: Sim. E isso foi muito ruim. E apesar disso, Dilma foi para o segundo turno. E Serra teve 44%.

The Economist: Só 44% contra alguém que nunca tinha sido cogitada para presidente antes…
Cardoso: Com Lula por trás. Seja como for, o que estou tentando dizer é que seria possível ganhar. Foi falha nossa.

The Economist: Com o mesmo candidato?
Cardoso: Bem… talvez não.

The Economist: Como o PSDB vai se unir ao redor de um candidato?
Cardoso: Tem que buscar a unidade interna. Eu diria que agora o PSDB está mais consciente da necessidade de se unir. Não é simples, porque o senso de coesão baseada em valores é menos forte que no passado. É mais uma questão de personalidades agora. E o mesmo se aplica ao outro lado. A última campanha deles foi nada, zero; as questões reais nunca foram levantadas. Foi um simulacro de campanha, com marqueteiros desempenhando o papel de atores principais, em vez de serem submetidos a alguma liderança.
Agora há vários pontos de interrogação. Qual será o papel de Lula? Eu diria que ninguém sabe, nem ele mesmo. Por causa da sua saúde [Lula tem câncer na garganta, com um bom prognóstico], mas não só por isso. Diria que normalmente Lula tentaria concorrer: ee é um animal muito competitivo, um animal político. E provavelmente a presidente Dilma não tem respaldo interno [em seu partido e nos parceiros de coalizão]. Se ele também tiver a mesma aspiração – não tenho certeza – será difícil para ela. Uma coisa é concorrer com Lula, outra é concorrer com outra pessoa, mesmo a presidente Dilma.
No caso do PSDB, o ex-governador Serra desempenha o papel de Lula: ele tem fibra, gosta de competir. Não sei até que ponto ele estará mais convencido que não é a vez dele, para dar espaço a outros.

The Economist: Quem seria o candidato óbvio?
Cardoso: Aécio Neves.

The Economist: Aécio pode ganhar?
Cardoso: Aécio é de uma cultura política brasileira mais tradicional, mais capaz de estabelecer alianças. Ele tem apoio em Minas Gerais [seu estado]. São Paulo não é assim, sempre se divide, é muito grande. As coisas vão ficar mais claras depois das eleições municipais [em outubro de 2012]. Provavelmente vamos ver uma forte luta interna no PSDB, entre Serra e Aécio.

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