domingo, 4 de julho de 2010

UM ARRAZOADO ISENTO E INTELIGENTE

ARTIGO

Sua Excelência, o fato

Por Vitor Hugo Soares

O deputado federal Indio da Costa, DEM do Rio de Janeiro, merece mais atenção e respeito, queiram ou não os descontentes, surpreendidos ou maledicentes com inveja ou insegurança mal disfarçadas desde a ascensão do inesperado ao centro do palco sucessório nacional na convenção da última terça-feira, em Brasília.

O jovem parlamentar carioca - "ele será meu primeiro e principal interlocutor a partir de agora", anunciou o candidato a presidente José Serra, ao saudar o desembarque, na undécima hora, do ocupante mais aguardado na chapa -, 39 anos, não é só o personagem polí tico da semana, mas se constitui, sem dúvida, naquilo que o estadista francês Charles de Gaulle costumava chamar de "Sua Excelência, o fato".

E com o fato não se brinca. Portanto, é bom olhar com mais cuidado e menos desprezo e arrogância para o jovem parlamentar carioca, guindado no meio do caos a tão honrosa, destacada e estratégica posição que os vices passaram a ter no jogo brasileiro do poder.

Há ainda a considerar, no jogo brasileiro de futebol, o doloroso e marcante exemplo de ontem da seleção vencedora treinada por Dunga. Jogou bem na primeira etapa mas no segundo tempo voltou ao gramado fazendo pouco do adversário. Desprezou um fato crucial, como lembrou o ex-craque de futebol e comentarista da Rede Globo ao analisar o desastre: "Esqueceram que, do outro lado, jogava o grande time da Holanda". Lição para muita gente não esquecer tão cedo!

Já é tarde demais, porém, no caso futebolístico. Adeus, África do Sul. Agora é sonhar com 2014 no Brasil, que os sonhos nunca morrem. E, enquanto isso, escolher outra seleção para torcer na Copa: A Argentina de Maradona?; o Uruguai, do botafoguense louco Abreu?; o surpreendente Paraguai?; no caso dos baianos, quem sabe torcer pelos africanos de Gana seria um bom consolo?

São sugestões que podem servir até para o presidente Lula, homem de política e de futebol, ir pensando enquanto arruma a mala para sua anunciada nova viagem ao continente africano. Ou o périplo será cancelado, como ocorreu com a anunciada nova visita à Bahia para os festejos de 2 de Julho, a data magna festejada ontem debaixo de chuva e choro no Estado?

Enquanto isso, voltemos ao fato inicial destas linhas: Indio da Costa, o homem - surpresa do time de Serra parece merecedor de consideração especial. Não só de seus pares da política e de seus aliados ou adversários de campanha, mas principalmente de quem profissionalmente trabalha na imprensa e faz jornalismo de verdade, em cujo altar, sempre se apregoou, o fato é o elemento essencial e o mais sagrado.

No meio do burburinho e do bate-cabeça que se formaram em várias áreas de governo, de oposição, mas principalmente de mídia e de seus analistas de política, uma coisa parece certa. Se vivas estivessem, duas figuras que entendiam como poucos de disputas eleitorais e da relevância da comunicação nesses processos - não tenho certeza se entendiam tanto de futebol - estariam mais que contentes e dando risadas irônicas com tudo isso: o carioca Carlos Lacerda e o baiano Antonio Carlos Magalhães, ambos filhos legítimos da antiga União Democrática Nacional, a UDN velha de guerra.

Entre espíritas ou não, na Bahia e no Rio, há quem jure de pés juntos que as sombras dos dois estiveram presentes o tempo inteiro guiando invisíveis seus mais fiéis herdeiros na Bahia e no Rio de Janeiro, na convenção em Brasília, da qual resultou a subida de Índio, conduzida pelo braço aparente do ex-prefeito do Rio Cesar Maia, para o cenário principal da sucessão presidencial. As imagens de felicidade do deputado ACM Neto, colhidas na convenção nacional do DEM, sintetizam o resto da historia.

Na mesma linha do citado pensamento inicial de De Gaulle, um mestre timoneiro da política brasileira, deputado Ulysses Guimarães, do velho MDB de guerra, acrescenta em uma de suas famosas e memoráveis frases, selecionadas por Dona Mora para o livro "Rompendo o cerco": "A política é o fato. A teoria social veste o fato social. Sem isso é devaneio ou ficção científica".

Rara percepção de estadista, tão em falta na política rastaquera destes dias. Raríssima reflexão também, infelizmente, entre os que pensam e fazem jornalismo nestes dias sinuosos e marcados por interesses pouco transparentes e rancores mal curados. Alguns, diante da escolha que nenhum deles previra ou antecipara nem em sonhos, chutaram o fato para escanteio e optaram pelas versões mal apuradas e os fuxicos típicos das chamadas "revistas de fofocas", sobre namoros passados e presentes do parlamentar.

No primeiro momento poucos na política, mas principalmente no jornalismo, tiveram a preocupação e o cuidado de levantar a biografia do vice de Serra. Quem o fez, porém, logo percebeu: o deputado Indio da Costa tem uma história boa, se comparado com a média de nossos políticos atuais. É advogado graduado pela respeitável Universidade Cândido Mendes e pós-graduado em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Vem precedido de três mandatos populares conquistados na Câmara de Vereadores do Rio. Além disso, tem experiência administrativa como secretário municipal do prefeito e padrinho Cesar Maia, e uma atuação na Câmara dos Deputados, que começou a despertar olhares de interesse na Casa principalmente quando ocupou com sucesso a relatoria do projeto Ficha Limpa, que tenta impedir a candidatura de corruptos e malversadores do dinheiro público.

E se o assunto é simpatia, a que alguns pensam reduzir a campanha para a sucessão presidencial, então sai de baixo, que o paulista Michel Temer (PMDB) não dá nem para a saída com o colega carioca Índio da Costa, que o DEM incorporou à chapa de Serra, que empata com a petista Dilma no quesito. OK, e daí ? perguntarão os renitentes da objetividade. Bem, isso só poderá ser respondido quando pararem o choro, as mágoas e o tiroteio de acusações de todo lado com a perda da Copa da África.

A conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail: Vitor_soares1@terra.com.br


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