terça-feira, 27 de abril de 2010

A verdade calamitosa sobre o Brasil petista


Postado por: GRUPO GUARARAPES, 27/04/2010
Os dois mundos de Lula
ROLF KUNTZ
O presidente Lula ouviu ontem o relato de mais um fracasso.
Nenhuma das grandes metas fixadas para 2010 na impropriamente chamada
Política de Desenvolvimento Produtivo será alcançada: o investimento não
chegará a 21% do PIB; o Brasil não aumentará sua participação no comércio
internacional; o gasto privado com inovação tecnológica ficará abaixo do
projetado em 2008; não haverá, na exportação, o desejado aumento da
presença das pequenas empresas.
O quadro foi a atração principal de um almoço no Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio. Um dia antes, ele havia
cobrado, em reunião ministerial, medidas urgentes para expansão do
financiamento às exportações. Segundo ele, os chineses vêm conquistando
mercados nas barbas dos brasileiros e é preciso reagir.
Se o presidente precisasse de números para reforçar a cobrança, poderia ter
citado um relatório divulgado no mesmo dia pela Cepal, a Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe. O documento contém um balanço da
competição entre China e Brasil em 11 mercados ou blocos. Na disputa pela
venda de produtos similares, o Brasil teve um ganho de US$ 13,6 bilhões
entre 1995 e 2008. A China, um aumento de US$ 512,5 bilhões.
O presidente Lula exigiu financiamentos. Isso é pouco. Os países mais
eficientes no comércio têm políticas de competitividade. O Brasil tem um
arremedo de política industrial. Nos últimos dez anos a maior taxa de
investimento em máquinas, equipamentos e construções ocorreu em 2008: 18,7%
do Produto Interno Bruto. Todos os competidores importantes investem mais
de 30% em capital físico. Os chineses, mais de 40%. Os brasileiros poderiam
ser bem mais competitivos do que hoje mesmo sem chegar perto desse nível.
Mas o investimento físico é só uma parte da diferença. Os países mais
dinâmicos no comércio têm políticas educacionais muito mais sérias e
produtivas. No Brasil, os números mais animadores indicam o esforço de
universalização. Houve um empenho, acentuado a partir dos anos 90, para
eliminar o analfabetismo. Mas a baixa eficiência do sistema é evidenciada
por fatos bem conhecidos.
Cerca de 20% dos brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos são
analfabetos funcionais. Empresários de vários setores queixam-se da
escassez de mão de obra. Há muita gente em busca de trabalho, mas falta
pessoal com um mínimo de qualificação. É desastrosa a formação básica em
linguagem, matemática e ciências. No Brasil, o governo tem cuidado
principalmente da multiplicação de vagas e de jovens diplomados, mesmo que
os diplomas sejam obtidos em cursos de baixo nível e não abram perspectivas
profissionais. Nos países com políticas sérias, procurou-se, nos últimos 30
anos, formar pessoal para participar efetivamente da produção e do
crescimento econômico.
Na semana passada, o presidente disse ter feito uma revolução na educação.
Deve ter sido um revolução com resultados comparáveis aos do PAC, o
emperrado Programa de Aceleração do Crescimento. Essa é uma das
características interessantes do presidente Lula: ele cobra resultados
concretos de seus auxiliares, mas seu discurso político trata quase sempre
de um mundo de fantasia. Tem sido assim com a imaginária política
industrial, com a política educacional e com a diplomacia Sul-Sul.
Essa diplomacia atribui prioridade a parcerias com latino-americanos e
outros emergentes. Mas são prioridades unilaterais. O governo brasileiro
trabalhou contra as negociações da Área de Livre Comércio das Américas
(Alca). Mas outros países da região não deixaram de buscar acordos com os
Estados Unidos.
Com ou sem acordo, vários desses países têm tido acesso preferencial do
mercado dos Estados Unidos. O Brasil não tem. Ao mesmo tempo, países
latino-americanos têm concedido facilidades comerciais tanto aos Estados
Unidos quanto aos chineses, enquanto o Brasil, nos acordos com os parceiros
da região, sempre concede muito mais do que recebe.
O avanço chinês mais ameaçador para os brasileiros ocorreu na América
Latina. Segundo a Cepal, a China teve um ganho de US$ 36,5 bilhões nas
vendas ao mercado latino-americano, entre 1995 e 2008, nas áreas de
competição com o Brasil. O Brasil perdeu US$ 698 milhões. A China avançou
até na Argentina, sócia do Mercosul, onde as exportações brasileiras são
sujeitas a barreiras protecionistas. Com um pouco mais de realismo, Lula> cobraria não só financiamentos à exportação, mas também uma política
industrial efetiva, uma reforma tributária para valer e uma diplomacia
econômica sem fantasia. Mas para isso seria necessária uma iluminação como> a de São Paulo, ao cair do cavalo na Estrada de Damasco.

Rolf Kuntz

ROLF KUNTZ

Rolf Kuntz

Possui graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1966), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1970) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1982). Atualmente é porfessor doutor da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Teoria das Ciências Humanas e Ética e Filosofia Política, atuando principalmente nos seguintes temas: política, economia, David Hume, democracia, Jean-Jacques Rousseau, John Locke e Adam Smith. Escreve no jornal Estado de São Paulo.


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