sábado, 5 de abril de 2014

Ex-senador boliviano é morto após deixar casa de Olacyr de Moraes




Motorista do empresário brasileiro é autor do crime, afirma investigadores da Polícia Civil

04 de abril de 2014 | 19h 23

Caio do Valle e Marcelo Godoy - O Estado de S. Paulo
Atualizada às 23h34
SÃO PAULO - Miguel Garcia Ferreira, de 61 anos, homem de confiança do empresário Olacyr de Moraes, matou nesta sexta-feira, 4, com quatro tiros o economista e ex-senador boliviano Andrés Fermin Heredia Guzmán, de 60 anos. O crime aconteceu na Avenida Morumbi, no Morumbi, na zona oeste de São Paulo, pouco depois de Ferreira e Guzmán terem deixado a casa de Olacyr, conhecido como o rei da soja.
Estado procurou ontem Olacyr, mas não conseguiu encontrá-lo. Ferreira trabalha há 38 anos para Olacyr como motorista e segurança. Guzmán conhecia os dois havia 20 anos. Ele era lobista e mantinha negócios com o empresário.
Na manhã desta sexta, ele chegou à casa de Olacyr, no Morumbi, por volta das 11 horas. Estacionou seu Cherokee blindado na garagem do imóvel e subiu. A conversa demorou cerca de 30 minutos. Quando desceu, o boliviano foi abordado por Ferreira, que lhe pediu uma carona até a Praça Oscar Americano, no bairro.
Os dois entraram no Cherokee. Guzmán carregava um sacola. Ferreira contou aos policiais que o detiveram que o economista boliviano estava se aproveitando de Olacyr para "tomar dinheiro de seu patrão". O segurança disse que pretendia "dar um susto" no economista. Para tanto, carregava um revólver calibre 38.
A arma estava registrada no nome de Ferreira, que, no entanto, não a havia recadastrado na Polícia Federal. Quando o carro parou na praça, o motorista sacou o revólver e o apontou para a cabeça de Guzmán, que teria reagido. Nesse momento, segundo a polícia, Ferreira disparou quatro vezes – três balas acertaram a vítima.
O economista tombou para trás e o carro acelerou, atravessando a avenida e batendo em um poste. A vítima – mesmo alvejada duas vezes na cabeça e uma no peito – saiu do carro, deu alguns passos e caiu. Ferreira abriu a porta do passageiro, deu a volta no veículo e tentou assumir a direção do Cherokee.
Como não conseguiu sair com o carro, desceu e abordou uma mulher. Disse que havia sofrido um acidente e pediu que ela o socorresse. Ele estava com sua camisa ensanguentada. No momento em que entrava no carro da mulher, o acusado do crime foi abordado por investigadores do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Os policiais passavam pela avenida e haviam ouvido os disparos. Eram 11h40.
Ferreira foi detido segurando a sacola com que Guzmán havia deixado a casa de seu patrão. Dentro dela havia R$ 399,9 mil. O dinheiro, segundo o acusado do crime, havia sido dado ao boliviano por Olacyr.
‘Matei’. De acordo com o diretor do Deic, delegado Wagner Giudice, o acusado, ao ser detido, disse aos policiais: "Matei mesmo. Tudo o que eu tenho eu devo ao Olacyr e ele(Guzmán) estava tentando se aproveitar da condição de saúde dele (Olacyr)". O motorista foi levado para o Deic, onde acabou autuado em flagrante sob a acusação de homicídio.
Ao ser indagado se queria contar sua versão dos fatos, o acusado – defendido pelo criminalista Adriano Salles Vanni – se recusou a depor e afirmou que só vai fazê-lo em juízo. A polícia agora quer ouvir o depoimento de Olacyr para saber qual a razão que o levou a entregar R$ 399,9 mil ao boliviano.
Além disso, os investigadores devem verificar a lista de últimas chamadas feitas pelo economista e pelo motorista. O carro da vítima foi examinado pela perícia. Para os responsáveis pela investigação, a principal hipótese para o crime é que o acusado tenha "tomado as dores" de seu patrão, a quem Guzmán, segundo ele teria dito aos policiais, "estava deixando triste".
Existe ainda a suspeita de que uma extorsão estivesse em andamento. Segundo a Polícia Civil, Guzmán pertencia a uma câmara de comércio entre o Brasil e a Bolívia e tinha atividades no País desde 1972.

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