Artigo no Alerta Total – http://www.alertatotal.net
Por João Vinhosa
As diversas correspondências encaminhadas aos sucessivos embaixadores dos Estados Unidos no Brasil comprovam que as autoridades daquele país foram insistentemente informadas sobre os crimes aqui praticados pela empresa norte-americana Praxair Inc. É de se destacar que tais correspondências foram amplamente divulgadas na internet, sendo que a maioria delas originou artigos publicados no Alerta Total (http://www.alertatotal.net/).
Para uma visão superficial da seqüência de correspondências, será apresentado, ao final, um breve relato das mesmas, destacando o nome do embaixador que as recebeu.
Note-se que a indiferença com que foram tratadas tais correspondências poderia até ser considerada natural, não fosse a alardeada disposição dos EUA combater corrupção levada a efeito por empresas norte-americanas para facilitar seus negócios no exterior.
Citada disposição pode ser constatada por duas leis: a Lei FCPA (Foreign Corrupt Practices Act.), que penaliza empresas dos EUA por prática de corrupção junto a autoridades estrangeiras, e a Lei Dodd-Frank, que instituiu a delação premiada para casos de suborno praticado por empresas norte-americanas no exterior. Além dessas leis, existem outros instrumentos para inibir a atuação de crimes cometidos por multinacionais, como o Acordo Brasil-EUA para combater cartéis.
Cumpre ressaltar que, logo na primeira correspondência, o Embaixador Melvyn Levitsky foi alertado que a Praxair Inc. poderia ter seus interesses prejudicados, em virtude de procedimentos ilícitos de sua controlada no Brasil.
A mais impressionante comprovação de que os alertas feitos aos embaixadores americanos eram consistentes ocorreu oito anos após o primeiro alerta (feito em janeiro de 1996). Em uma operação de busca e apreensão realizada nas dependências da empresa pertencente à Praxair em fevereiro de 2004, foram coletados documentos que comprovaram a participação da empresa naquele que ficou conhecido como o “Cartel do Oxigênio”. Conseqüência: depois de um tumultuado processo, a empresa foi condenada a pagar a maior multa já aplicada pelo órgão brasileiro de defesa da concorrência, o gigantesco valor de R$ 2,2 bilhões.
Como se sabe, a Praxair Inc. é a proprietária da totalidade das ações da líder do mercado brasileiro de gases medicinais e industriais – empresa que, durante o governo Lula, se tornou a sócia majoritária, com 60% das quotas (os outros 40% pertencem à Petrobras) da Gemini, uma espúria sociedade constituída para produzir e comercializar gás natural liquefeito (GNL).
Relativamente à Gemini, um alerta: o potencial de risco de escândalo é substancialmente maior que no caso do “Cartel do Oxigênio”. Isso, porque somente um fortíssimo tráfico de influência envolvendo altas autoridades brasileiras pode justificar as gigantescas vantagens obtidas pela empresa de propriedade da Praxair em detrimento do interesse público.
A propósito, é impossível haver denúncia mais explícita de corrupção que a charge que ilustra uma matéria publicada no próprio jornal do sindicato dos trabalhadores na indústria do petróleo (Sindipetro): uma pessoa com uma mala recheada de dinheiro, na qual se encontra gravado o nome da empresa que pertence à Praxair.
Pior: nada mais perfeito para se concluir que a Praxair Inc. aprova os procedimentos de sua empresa brasileira que a carreira do Vice-Presidente Executivo da Praxair Inc., Ricardo Malfitano. Malfitano iniciou sua carreira na controlada brasileira, trabalhou algum tempo na Praxair nos EUA, retornou ao Brasil como Diretor da controlada brasileira, voltou para os EUA como Presidente da Praxair – New York, retornou ao Brasil como Presidente da controlada brasileira, deixando tal cargo para ocupar a posição de Vice-Presidente Executivo da Praxair nos EUA.
Para finalizar, será apresentada, a seqüência de correspondências mencionada no início deste artigo.
Embaixador Melvyn Levitsky
O Embaixador Melvyn Levitsky foi quem, em 25 de janeiro de 1996, recebeu a primeira das correspondências em questão. Nela, foram apresentadas incontestáveis evidências da conivência de autoridades brasileiras nos ilícitos dos quais a Praxair se beneficiava.
É de se destacar que, à época, o Embaixador Levitsky estava lutando em defesa dos interesses da Raytheon – empresa norte-americana que estava na iminência de perder o cobiçado contrato do Sistema de Vigilância da Amazônia, em decorrência de um suposto envolvimento de seus representantes com a corrupção de funcionários do governo brasileiro, o chamado “Escândalo SIVAM”.
Não se sabe quais outros casos, além dos casos da Praxair Inc. e da Raytheon, eram do conhecimento do Embaixador Levitsky. O que se sabe é que, por ocasião da visita do Presidente Clinton a nosso País, ocorrida em 1997, ele chocou toda a classe diplomática ao afirmar categoricamente que “A corrupção no Brasil é endêmica”.
O mesmo Embaixador, em 6 de julho de 1998, recebeu outra correspondência, dando-lhe ciência de que a previsão feita dois anos antes se consumava com a publicação da matéria “Números da tunga da saúde no Rio”. Em tal matéria, publicado no O Globo de 31 de maio de 1998, o jornalista Elio Gaspari, dentro do estilo que o caracteriza, expôs a empresa de propriedade da Praxair Inc. à execração pública.
Embaixador Anthony Harrington
Em 26 de junho de 2000, o Embaixador Anthony Harrington, recebeu correspondência rememorando os fatos narrados a seu antecessor (Embaixador Levitsky), e dando novos detalhes dos crimes cometidos pela controlada da citada empresa norte-americana.
Em tal correspondência, se lê: “Enquanto recém-nascidos têm morrido por falta de UTI nas maternidades públicas, doentes são despejados nos corredores dos hospitais do Governo por falta de leitos nas enfermarias, e a dengue se alastra por todo o País em virtude da falta de recursos para a compra de inseticidas que combatam o mosquito transmissor da doença, a ganância da controlada da Praxair Inc. continua implacável: multiplica seus preços por fatores criminosamente altos, sem se preocupar com as conseqüências de seu preço extorsivo para a sobrevivência da população carente de nosso País.”
Embaixadora Donna Hrinak
Em 16 de julho de 2002, a Embaixadora Donna Hrinak recebeu correspondência ainda mais detalhada sobre o assunto em questão. Dela, são transcritos os seguintes trechos: “sabendo da preocupação de seu país com o procedimento de empresas norte-americanas em países amigos, solicito a V. Exª. que encaminhe cópia desta carta à Praxair Inc. para que ela não possa, no futuro, alegar que tais práticas ilícitas são de exclusiva responsabilidade de sua controlada brasileira (...) informo a V. Exª. que cópia desta carta estará sendo encaminhada ao Ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer, e será disponibilizada no site www.conivencia.com”.
Embaixador Clifford Sobel
Em 31 de agosto de 2006, o Alerta Total publicou matéria comentando carta recebida pelo Embaixador Clifford Sobel. Entre outros fatos, a matéria fala das fraudes e superfaturamentos praticados pela controlada da Praxair Inc. no Hospital Central do Exército e no Hospital Público de Macaé.
Embaixador Thomas Shannon
O Alerta Total publicou a íntegra de correspondência encaminhada ao Embaixador Thomas Shannon em 29 de abril de 2010, tratando especificamente do Acordo Brasil – Estados Unidos para combater cartéis. Em tal correspondência, foi solicitado ao Embaixador a determinação de “providências no sentido de fazer a presente correspondência chegar ao Departamento de Justiça e à Comissão Federal de Comércio, as autoridades de defesa da concorrência que representam os Estados Unidos no Acordo”.
Mais recentemente, o Alerta Total publicou três artigos: “O Embaixador dos EUA e o Cartel do Oxigênio”, “Embaixador dos EUA recebe denúncia de crimes praticados por empresas norte-americanas no Brasil” e “Nova carta ao embaixador dos EUA sobre cartéis”. Tais artigos são relativos às três últimas correspondências dirigidas ao atual Embaixador, Thomas Shannon, em fevereiro de 2012.
João Vinhosa é Engenheiro.
Por João Vinhosa
As diversas correspondências encaminhadas aos sucessivos embaixadores dos Estados Unidos no Brasil comprovam que as autoridades daquele país foram insistentemente informadas sobre os crimes aqui praticados pela empresa norte-americana Praxair Inc. É de se destacar que tais correspondências foram amplamente divulgadas na internet, sendo que a maioria delas originou artigos publicados no Alerta Total (http://www.alertatotal.net/).
Para uma visão superficial da seqüência de correspondências, será apresentado, ao final, um breve relato das mesmas, destacando o nome do embaixador que as recebeu.
Note-se que a indiferença com que foram tratadas tais correspondências poderia até ser considerada natural, não fosse a alardeada disposição dos EUA combater corrupção levada a efeito por empresas norte-americanas para facilitar seus negócios no exterior.
Citada disposição pode ser constatada por duas leis: a Lei FCPA (Foreign Corrupt Practices Act.), que penaliza empresas dos EUA por prática de corrupção junto a autoridades estrangeiras, e a Lei Dodd-Frank, que instituiu a delação premiada para casos de suborno praticado por empresas norte-americanas no exterior. Além dessas leis, existem outros instrumentos para inibir a atuação de crimes cometidos por multinacionais, como o Acordo Brasil-EUA para combater cartéis.
Cumpre ressaltar que, logo na primeira correspondência, o Embaixador Melvyn Levitsky foi alertado que a Praxair Inc. poderia ter seus interesses prejudicados, em virtude de procedimentos ilícitos de sua controlada no Brasil.
A mais impressionante comprovação de que os alertas feitos aos embaixadores americanos eram consistentes ocorreu oito anos após o primeiro alerta (feito em janeiro de 1996). Em uma operação de busca e apreensão realizada nas dependências da empresa pertencente à Praxair em fevereiro de 2004, foram coletados documentos que comprovaram a participação da empresa naquele que ficou conhecido como o “Cartel do Oxigênio”. Conseqüência: depois de um tumultuado processo, a empresa foi condenada a pagar a maior multa já aplicada pelo órgão brasileiro de defesa da concorrência, o gigantesco valor de R$ 2,2 bilhões.
Como se sabe, a Praxair Inc. é a proprietária da totalidade das ações da líder do mercado brasileiro de gases medicinais e industriais – empresa que, durante o governo Lula, se tornou a sócia majoritária, com 60% das quotas (os outros 40% pertencem à Petrobras) da Gemini, uma espúria sociedade constituída para produzir e comercializar gás natural liquefeito (GNL).
Relativamente à Gemini, um alerta: o potencial de risco de escândalo é substancialmente maior que no caso do “Cartel do Oxigênio”. Isso, porque somente um fortíssimo tráfico de influência envolvendo altas autoridades brasileiras pode justificar as gigantescas vantagens obtidas pela empresa de propriedade da Praxair em detrimento do interesse público.
A propósito, é impossível haver denúncia mais explícita de corrupção que a charge que ilustra uma matéria publicada no próprio jornal do sindicato dos trabalhadores na indústria do petróleo (Sindipetro): uma pessoa com uma mala recheada de dinheiro, na qual se encontra gravado o nome da empresa que pertence à Praxair.
Pior: nada mais perfeito para se concluir que a Praxair Inc. aprova os procedimentos de sua empresa brasileira que a carreira do Vice-Presidente Executivo da Praxair Inc., Ricardo Malfitano. Malfitano iniciou sua carreira na controlada brasileira, trabalhou algum tempo na Praxair nos EUA, retornou ao Brasil como Diretor da controlada brasileira, voltou para os EUA como Presidente da Praxair – New York, retornou ao Brasil como Presidente da controlada brasileira, deixando tal cargo para ocupar a posição de Vice-Presidente Executivo da Praxair nos EUA.
Para finalizar, será apresentada, a seqüência de correspondências mencionada no início deste artigo.
Embaixador Melvyn Levitsky
O Embaixador Melvyn Levitsky foi quem, em 25 de janeiro de 1996, recebeu a primeira das correspondências em questão. Nela, foram apresentadas incontestáveis evidências da conivência de autoridades brasileiras nos ilícitos dos quais a Praxair se beneficiava.
É de se destacar que, à época, o Embaixador Levitsky estava lutando em defesa dos interesses da Raytheon – empresa norte-americana que estava na iminência de perder o cobiçado contrato do Sistema de Vigilância da Amazônia, em decorrência de um suposto envolvimento de seus representantes com a corrupção de funcionários do governo brasileiro, o chamado “Escândalo SIVAM”.
Não se sabe quais outros casos, além dos casos da Praxair Inc. e da Raytheon, eram do conhecimento do Embaixador Levitsky. O que se sabe é que, por ocasião da visita do Presidente Clinton a nosso País, ocorrida em 1997, ele chocou toda a classe diplomática ao afirmar categoricamente que “A corrupção no Brasil é endêmica”.
O mesmo Embaixador, em 6 de julho de 1998, recebeu outra correspondência, dando-lhe ciência de que a previsão feita dois anos antes se consumava com a publicação da matéria “Números da tunga da saúde no Rio”. Em tal matéria, publicado no O Globo de 31 de maio de 1998, o jornalista Elio Gaspari, dentro do estilo que o caracteriza, expôs a empresa de propriedade da Praxair Inc. à execração pública.
Embaixador Anthony Harrington
Em 26 de junho de 2000, o Embaixador Anthony Harrington, recebeu correspondência rememorando os fatos narrados a seu antecessor (Embaixador Levitsky), e dando novos detalhes dos crimes cometidos pela controlada da citada empresa norte-americana.
Em tal correspondência, se lê: “Enquanto recém-nascidos têm morrido por falta de UTI nas maternidades públicas, doentes são despejados nos corredores dos hospitais do Governo por falta de leitos nas enfermarias, e a dengue se alastra por todo o País em virtude da falta de recursos para a compra de inseticidas que combatam o mosquito transmissor da doença, a ganância da controlada da Praxair Inc. continua implacável: multiplica seus preços por fatores criminosamente altos, sem se preocupar com as conseqüências de seu preço extorsivo para a sobrevivência da população carente de nosso País.”
Embaixadora Donna Hrinak
Em 16 de julho de 2002, a Embaixadora Donna Hrinak recebeu correspondência ainda mais detalhada sobre o assunto em questão. Dela, são transcritos os seguintes trechos: “sabendo da preocupação de seu país com o procedimento de empresas norte-americanas em países amigos, solicito a V. Exª. que encaminhe cópia desta carta à Praxair Inc. para que ela não possa, no futuro, alegar que tais práticas ilícitas são de exclusiva responsabilidade de sua controlada brasileira (...) informo a V. Exª. que cópia desta carta estará sendo encaminhada ao Ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer, e será disponibilizada no site www.conivencia.com”.
Embaixador Clifford Sobel
Em 31 de agosto de 2006, o Alerta Total publicou matéria comentando carta recebida pelo Embaixador Clifford Sobel. Entre outros fatos, a matéria fala das fraudes e superfaturamentos praticados pela controlada da Praxair Inc. no Hospital Central do Exército e no Hospital Público de Macaé.
Embaixador Thomas Shannon
O Alerta Total publicou a íntegra de correspondência encaminhada ao Embaixador Thomas Shannon em 29 de abril de 2010, tratando especificamente do Acordo Brasil – Estados Unidos para combater cartéis. Em tal correspondência, foi solicitado ao Embaixador a determinação de “providências no sentido de fazer a presente correspondência chegar ao Departamento de Justiça e à Comissão Federal de Comércio, as autoridades de defesa da concorrência que representam os Estados Unidos no Acordo”.
Mais recentemente, o Alerta Total publicou três artigos: “O Embaixador dos EUA e o Cartel do Oxigênio”, “Embaixador dos EUA recebe denúncia de crimes praticados por empresas norte-americanas no Brasil” e “Nova carta ao embaixador dos EUA sobre cartéis”. Tais artigos são relativos às três últimas correspondências dirigidas ao atual Embaixador, Thomas Shannon, em fevereiro de 2012.
João Vinhosa é Engenheiro.
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