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Por Arthur Jorge Costa Pinto
Triste Nação que atravessa um momento de desaceleração do crescimento, demonstrando grandes possibilidades de ingressarmos em um período recessivo. Apesar de a equipe econômica estar sempre contestando esta situação em função das eleições, ela se torna cada vez mais factível, pois os números divulgados não enganam e comprovam que estamos beirando uma inevitável recessão.
Breve retrospectiva sobre o PIB (Produto Interno Bruto), que no terceiro trimestre de 2013 caiu em (-0,3%), elevou-se para (+0,4%) no quarto e último trimestre do mesmo ano, subiu apenas (+0,2%) no primeiro trimestre deste ano, acrescendo-se o declínio de (-0,8%) da indústria, recuo de (-0,1%) do consumo da família, além do desempenho dos investimentos negativo em (-2,1%), juntando-se a outros dados desfavoráveis do mercado, reflete perspectivas pessimistas segundo uma boa fatia dos analistas econômicos.
São grandes as chances do PIB nos próximos trimestres se apresentar no mínimo estagnado, podendo até mesmo ser negativo. Se acontecer uma contração superior ou igual a 0,2%, no segundo trimestre de 2014, isso levará, consequentemente, o IBGE a um ajuste sazonal nos dados referentes ao primeiro trimestre, tornando-os negativos, o que distinguiria de imediato uma recessão técnica (queda do produto em dois semestres consecutivos).
Pesquisas no início de junho, realizadas pelo mercado financeiro, confirmaram um cenário muito desalentador, sinalizando que as coisas tendem a piorar. Caso sinais de uma recuperação não aconteçam até julho, começaremos a enfrentar o início da danosa recessão técnica na véspera das eleições presidenciais, uma vez que a divulgação do PIB do segundo trimestre está prevista para ser em 29.08.14, faltando apenas 36 dias para o primeiro turno do grande pleito.
O tempo econômico se apresenta veloz, correndo bem na frente do tempo político e isso preocupa as cabeças coroadas da dialética petista.
Diversos indicadores conjunturais de abril e maio apresentaram queda e junho demonstrou aparentemente ter sido mais recessivo, com a realização da “Copa das Copas”, que deverá prejudicar a produção, com a redução da jornada de trabalho devido aos jogos que estão sendo realizados.
Uma das sutilezas da economia é ser cíclica, tendo início, meio e fim. Este último ciclo de crescimento da nossa economia já deu provas de que chegou ao fim e, pelo visto, exauriu-se, deixando recordações desprezíveis.
Este período de quase uma década foi marcado pela expansão do consumo, do crédito e do investimento. Encerrou-se de forma caótica, coincidindo com as eleições majoritárias uníssonas com turbulências na área fiscal, defasagem nos preços, a exemplo da gasolina e da energia elétrica, nas contas internas e externas e por aí vão os equívocos praticados.
O segmento da indústria atravessa um momento trágico, inclusive com recuo em maio (-18,31%), na geração de empregos com relação ao mesmo período de 2013. Há queda expressiva na produção industrial (-0,8%), sobressaindo a produção de veículos e os subsetores na indústria de transformação (também -0,8%); na aquisição de equipamentos e máquinas destinados ao segmento com o faturamento bruto enfraquecido em maio (-14,5%) sobre o mesmo mês do ano passado; na indústria da construção civil (-0,9%), quando o setor apresentou a maior retração desde o primeiro trimestre de 2009, no pico da crise mundial, tendo como principais motivos, diminuição do ritmo de obras de infraestrutura e a possível desaceleração do crédito imobiliário.
Este segmento, que já foi uma locomotiva importante de vagas no mercado de trabalho para mão de obra de baixa escolaridade, hoje refluiu, com desempenho pífio, apresentando perdas no número de novas vagas mês após mês.
Pela vertente da demanda, o consumo das famílias, que equivale a mais de 60% do PIB, encontra-se definhando como já vimos no quadro acima. Este costuma ser um indicador importantíssimo e poderá ser um pouco menor no próximo trimestre, em função do término do incentivo ao consumo e da queda na oferta creditícia.
O desencantado comércio varejista teve, em janeiro passado, o último mês em que a vendas foram positivas (+0,35%). Ficaram paralisadas em fevereiro e desaceleraram em março, abril e maio. Segundo as associações do setor, a Copa trará um saldo negativo ao varejo, já que a atividade contará com menos dias e horas úteis de trabalho, com feriados em algumas cidades e paralisação em dias de jogos da seleção brasileira.
A perda de vigor do setor Serviços parece ser um reflexo do enfraquecimento generalizado do nível de atividade. Provavelmente, no segundo trimestre, poderá apresentar um resultado nulo ou ligeiramente negativo.
Há também acentuada queda de (-18,3%) na geração líquida de vagas de trabalho em maio, frente ao idêntico mês do ano passado. Isso reflete um péssimo saldo de criação de vagas de trabalho com carteira assinada, para um mês de maio desde 1992, portanto há 22 anos, sendo o pior resultado para os cinco primeiros meses de um ano a partir de 2009. O mercado de trabalho corre o risco de apresentar uma bruta ressaca após a Copa do Mundo, com possível eliminação das vagas temporárias a fim de atender a demanda que impõe este grande evento. Sem dúvida, ele está perdendo fôlego.
Tudo indica que os investimentos devem encerrar este exercício no vermelho. Seu indicador, a Formação Bruta do Capital Fixo (FBCF) encolheu (-2,1%). Dentre muitos fatores negativos, destaca-se à falta de confiança do empresariado.
A contração da economia brasileira também está reproduzida nos índices de confiança medidos pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Os indicadores da indústria, serviços, comércio e consumidor tiveram uma poderosa queda desde o início do ano e registram variação negativa recorde (vide abaixo).
As grandes questões econômicas brasileiras são de origens conjunturais e estruturais. Conhece-se o famoso Custo Brasil, uma vistosa cesta de complexidades estruturais, burocráticas e econômicas que torna dispendioso o investimento entre nós, comprometendo a indústria quanto a sua eficiência e competitividade.
A alta carga tributária, os obstáculos enfrentados para se abrir um negócio, custos trabalhistas elevados, burocracia dominando as importações e exportações são, a meu ver, as maiores forças restritivas que impedem os investimentos.
Os baixos investimentos são, sem dúvida, uma das principais barreiras ao nosso crescimento sustentável. A média brasileira, compreendendo o período de 2004 a 2013 foi de 18,3% do PIB, abaixo da taxa mundial (23,8%) dos emergentes (29,9%) e da América Latina. (21,1%). Nossos vizinhos latino-americanos, também no mesmo período, apresentaram taxas maiores que a nossa - Chile e Colômbia (igualmente com 22,5%), Peru (23,1%) e México (22,9%).
Diversos partidos da base aliada do governo censuram as projeções do crescimento raquítico para o futuro da economia brasileira, mas, infelizmente, o que está sendo estimado pelas entidades representativas parece ser algo mais baixo ainda.
O último Boletim Focus (Banco Central) projetou nosso crescimento em 1,10% em 2014 e 1,50% para 2015. O Brasil em 2013 cresceu apenas 2,3%, inferior aos 3% global, aos 4,7% das nações emergentes e aos 2,7% da América Latina.
A concepção incoerente da “nova matriz econômica” do governo Dilma proporcionou um crescimento baixo, inflação elevada com taxa básica de juros de 11% a.a., déficit em transações correntes (US$ 6,635 bilhões), déficit de conta corrente (US$ 6,65 bilhões) e uma famigerada política fiscal impregnada pela “contabilidade criativa”.
Em 2015, seja quem for que venha ocupar o Palácio do Planalto terá que promover um robusto ajuste que proporcione ao País aumentar as taxas de investimentos e, consequentemente, favorecer um crescimento efetivo, trazendo a inflação ao centro da meta estipulada, assim como rigor na política fiscal, entre outros.
A palavra recessão por anos assombrou os brasileiros. Retornamos a visualizá-la pelo baixo crescimento econômico, sendo os exclusivos culpados os atuais mandatários, que tomaram medidas equivocadas nesta tresloucada gestão macroeconômica. Houve omissão na alavancagem da poupança doméstica, quando as alternativas externas desapareceram, balança de pagamentos negativa, baixa produtividade e investimentos essenciais em infraestrutura.
Outras três questões relevantes impressionam o atual cenário brasileiro. Em primeiro lugar, a inflação superior a 6%, acariciando com desenvoltura seu limite máximo, num ambiente de expansão econômica limitado. Em segundo, a existência de uma inflação “oculta”, ocasionada pelos preços represados especialmente nas áreas de combustíveis e energia que, no futuro, em algum momento, serão corrigidos. Em terceiro, a ausência de fatores que contribuam com sustentabilidade para uma retomada da economia.
Economistas de variadas matizes afirmam que o Brasil, lamentavelmente, não poderá contar com apoio externo. O imprescindível é criar condições e vontade política para derrubar a inflação e retomar o crescimento, o que, a meu ver, deverá ser uma das metas prioritárias da nova administração.
O governo petista segue determinado o seu “laborioso” caminho, sempre “empurrando “com a barriga” e conservando seu estilo intolerante, com discurso enganoso, jogo de palavras e produzindo imagens hilariantes na TV. Resgatar a sua credibilidade é o único caminho para mudar os rumos da atual política econômica praticada nos últimos três anos, que só fizeram multiplicar os problemas, de modo a se evitar uma recessão ou a estagnação que o País já começou a vivenciar.
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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