sábado, 5 de julho de 2014

Aloysio Nunes: Dilma não tem nada de novo a oferecer ao país.






Com capital de 11 milhões de votos na última eleição para o Senado, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) foi escolhido candidato a vice-presidente na chapa do mineiro Aécio Neves após dar mostras de que pode aproximar aliados do ex-governador José Serra e reunir prefeitos e militantes no maior colégio eleitoral do Brasil – 32 milhões de votos. 

Ex-guerrilheiro nos anos da ditadura militar, época em que adotava o codinome Mateus, Aloysio afirma que a presidente Dilma Rousseff “dilapidou o capital político imenso que tinha”, mas ainda assim prevê uma “campanha dura” contra o PT. O tucano afirma que a petista “raspou o fundo do tacho da fisiologia”, loteando o governo a aliados para conseguir maior tempo de propaganda eleitoral na televisão. "Houve um festival escancarado de fisiologismo patrocinado pela presidente Dilma”, afirma. 

A entrevista abaixo foi publicada no site da revista VEJA.

As pesquisas mostram que os eleitores querem mudança, mas não a associam a nenhum candidato. Por que o senador Aécio Neves seria essa mudança? 
Fernando Henrique cumpriu uma etapa muito importante da construção do Brasil moderno com o combate e a derrota da hiperinflação e com a estabilidade da moeda. Lula preservou os fundamentos da estabilidade que recebeu e colocou o tema da igualdade e de combate à miséria absoluta no centro da agenda política. A presidente Dilma, que tinha tudo pra dar um passo adiante, não deu. Nem na infraestrutura, nem na reforma da administração, na mudança dos costumes políticos. É uma gestão errática na economia, que chega a colocar em risco uma das maiores conquistas do brasileiro, que é o controle da inflação. O senador Aécio representa uma perspectiva de mudança com essa pasmaceira e com essa mediocridade porque tem talento político, capacidade administrativa amplamente demonstrada à frente do governo de Minas Gerais e tem uma sustentação política muito forte para enfrentar esses problemas.

Qual sua principal contribuição como vice de Aécio? 
A experiência política acumulada ao longo do tempo me propiciou uma rede de relações muito ampla no PSDB e nos demais partidos que integram nossa coligação. Posso ajudar o coordenador geral da campanha na articulação política, ocupar papel na comunicação da campanha e com o Congresso. Vou continuar na liderança do partido e a tribuna parlamentar poderá ser usada para defender a campanha quando considerar importante. Em São Paulo, minha principal função será ativar, estimular e engajar uma rede muito ampla de agentes políticos espalhados pelo Estado, pela região metropolitana, pelo interior.

PT e PSDB polarizam as eleições presidenciais há anos. Há o risco de o eleitor sentir que o país anda em círculos? 
Não. Quando decide seu voto, a motivação partidária não é predominante. O eleitor escolhe o candidato. O eleitor quer saber o que ele vai ganhar, o que vai ter de bom e de novo com o candidato que escolhe. Eu não vejo o que a presidente Dilma pode propor de bom e de novo, sobretudo tendo em vista o retrospecto do governo dela. Que coelho ela vai tirar da sua cartola? Dilma desperdiçou uma oportunidade e dilapidou o capital político imenso que ela tinha.

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira mostra que a presidente tem mais pontos em todos grupos etários, na maioria das regiões, entre eleitores com diferentes graus de escolaridade. O clima da Copa do Mundo, de congraçamento e de união, está presente no noticiário, na publicidade, até em anúncio de sabonete. É um clima muito propício e isso ajuda a melhorar o humor do eleitor. Ao mesmo tempo, a oposição também tem crescido e a diferença entre Dilma e Aécio na projeção do segundo turno vai diminuindo. Isso quer dizer que a campanha não será um passeio ou um caminho coberto de pétalas de rosas. Pelo contrário, vai ser uma campanha dura, difícil e o PT tem muitos ativos a favor deles, especialmente a máquina pública, e não hesitará em fazer o diabo para ganhar as eleições.

O PSDB negociou com vários partidos em busca de alianças e tempo de TV. Hoje os partidos de oposição no Brasil são satélites do PSDB? Não, são parceiros. O Democratas e o Solidariedade tiveram papel fundamental nessa tessitura de alianças em todos os Estados e vão dar sustentação política muito forte à candidatura do Aécio. Na hora em que as infantarias entrarem em campo, serão milhares de candidatos a deputado estadual, deputado federal e prefeitos que vão se mobilizar. Isso vale muito mais que o tempo de TV. A aliança do PSDB é sólida, ao contrário da Dilma, que raspou o fundo do tacho da fisiologia, entregando tudo que era possível entregar e até o impossível, o que não se deveria entregar. No caso do Ministério dos Transportes, pela primeira vez um ministro é demitido porque é muito bom, é sério, é correto, porque não atende os interesses do partido. Houve um festival escancarado de fisiologismo patrocinado pela presidente Dilma.

O PSDB fez aliança com o PSB em São Paulo, com PMDB no Nordeste, mas ambos partidos serão rivais na disputa nacional.
Isso mostra a força da realidade local nas eleições e revela um fenômeno, que já foi constatado no plano nacional, que é a desagregação do bloco político de sustentação do atual governo. Há sinais muito evidentes dessa desagregação: a saída do PSB com uma candidatura de oposição, o PTB, que era governista, decidindo apoiar a candidatura de Aécio. Os políticos sentem o cheiro do vento, têm sensibilidade e sabem para onde está indo o movimento profundo da opinião pública.

Nessas eleições, a internet terá um papel importante para a difusão de propostas, mas também vai possibilitar a proliferação de boatos. Como lidar com isso? 
Essa boataria suja circula em um ambiente fechado. Quem frequenta esses blogs notoriamente mercenários do PT já tende a dar curso a esse tipo de coisa. As redes sociais serão mais importantes para a difusão de propostas e para esclarecer dúvidas. A xingação se esgota em um circuito fechado e não creio que vá muito além disso.

Qual o principal problema do governo Dilma? 
A economia é o principal fator de desgaste do governo, com a volta da inflação sobretudo nos gêneros de consumo popular. Há também o crescimento baixo, que redunda em uma menor perspectiva de empregos de boa qualidade, em endividamento das pessoas. Isso o povo sente e é resultado de uma gestão muito ruim da economia. Mas também existem esqueletos aí prontos para estourar, como o descontrole das contas públicas e o aumento das despesas correntes.

O senhor é contrário à criminalização do aborto e do usuário de drogas e a favor da rediscussão da maioridade penal. Esses temas são recorrentes nas campanhas políticas. Como acredita que se dará esse debate nestas eleições? 
Não temos uma unidade política em relação a muitos desses temas. Em muitos países, questões como essas foram decididas por plebiscito porque são temas que dividem verticalmente o sistema político. É uma questão mais de valores fundamentais do que um tema de cunho partidário e não creio que isso deva ser objeto de campanha. Em relação a drogas, o que deve ser discutido é a maneira de tratar o usuário e a forma mais eficiente de se combater o tráfico. O importante é como diminuir a demanda por drogas a partir de campanhas educativas, de mostrar que droga é uma droga e como tratar a pessoa que é vítima dessa doença. No caso do aborto, respeito as objeções morais, religiosas e até constitucionais, mas há um fato humano que precisa ser levado em conta. A mulher que decide interromper a gravidez já passa por um sofrimento muito grande e acho que seria cruel, desumano e ineficaz submetê-la a mais um castigo, o castigo da lei penal. O Aécio tem uma posição diferente da minha. Esses temas são mesmo uma questão pessoal.

No ano passado, o senhor disse que o cargo de vice-presidente é obsoleto. O que mudou? 
A minha vocação fundamental em matéria de atividade política é uma vocação parlamentar, mas considero que essa candidatura é um desdobramento de toda a minha trajetória política nesses mais de trinta anos. Em todo caso, acho que a questão do vice precisa ser revista. Há outras opções para substituição, mas enquanto o cargo continua quero exercê-lo na plenitude, com dignidade e ajudando o presidente na medida das minhas forças e das minhas capacidades.

O senhor teve o nome citado no caso que apura formação de cartel e corrupção no metrô e em trens de São Paulo. Acha que esse assunto será explorado na campanha pelos adversários? 
Não existe investigação em relação a mim. Houve uma citação [do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, delator do esquema]. Esse tema do metrô e dos trens está sendo investigado por iniciativa do governo de São Paulo. Existem pessoas com denúncia e com contas bloqueadas. As providências de investigação estão sendo tomadas. Se explorar em programa de TV é coisa do jogo sujo, porque não tem o que explorar. Assim como não tem que se explorar o mensalão, que já foi julgado. A Justiça foi feita e os condenados já estão cumprindo pena. Os efeitos desse episódio já se produziram, e o PT já não pode ter a pretensão de ser monopolista da ética e da virtude.

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