quinta-feira, 20 de março de 2014

Brasil se preocupa com invasão de barrabravas argentinos na Copa




Autoridades dos dois países se reuniram na terça e selaram acordo de cooperação

20 de março de 2014 | 4h 49

Ariel Palacios - O Estado de S. Paulo
BUENOS AIRES - Os barrabravas, os violentos torcedores argentinos, estão se preparando para assistir à Copa do Mundo. O planejamento da viagem ao Brasil é bastante detalhado – passa até por contatos com líderes de torcida do futebol gaúcho, pois a ideia é fazer Porto Alegre de quartel-general. Preocupados, os governos de Brasil e Argentina firmaram acordo de cooperação para tentar controlar esses torcedores.
Torcedores do Boca enfrentam a polícia - Marcos Brindicci/Reuters
Marcos Brindicci/Reuters
Torcedores do Boca enfrentam a polícia
O plano dos barrabravas prevê até o que farão aqueles que não conseguirem ingressos. Eles ficariam do lado de fora dos estádios, fazendo o que os argentinos chamam de "el aguante", expressão usada para definir o apoio fanático e apaixonado de uma torcida por seu time.
No fim do mês, uma comitiva com dez torcedores argentinos viajará a Porto Alegre para se reunir com contatos locais – entre eles José Hierro Martins, da Guarda Popular, do Internacional – para preparar o desembarque das organizadas argentinas na capital gaúcha, de onde partiriam para o resto do País. O grupo está organizando o financiamento da viagem desde 2011.
A seleção argentina está no Grupo F da Copa do Mundo e jogará no Rio de Janeiro em 15 de junho, contra a Bósnia; em Belo Horizonte no dia 21, contra o Irã; e no dia 25 em Porto Alegre, contra a Nigéria.
Diversas estimativas indicam que ao redor de 650 barrabravas de 38 clubes argentinos viajarão ao Brasil, em dez ônibus, aumento de 150% em relação ao contingente que foi à África do Sul em 2010. São integrantes das Torcidas Unidas Argentinas, entidade conhecida pela sigla HUA, que se apresenta como uma ONG para divulgar a "cultura do futebol".
Em 2010, os barrabravas contavam com lideranças fortes, que serviam de interlocutores com diversos integrantes do governo da presidente Cristina Kirchner que lhes conseguiam financiamentos. Atualmente, eles não possuem um comando único e recebem apoio econômico tanto de aliados da Casa Rosada como da oposição.
Analistas esportivos consultados pelo Estado sustentam que esse cenário de “atomização’’ das lideranças e vínculos complicou nos últimos anos o controle da violência dos barrabravas por parte das forças de segurança. No entanto, as autoridades argentinas prometem fiscalizar estes grupos violentos que viajarão ao Brasil. Os críticos ironizam, afirmando que o governo Kirchner nem sequer consegue controlá-los dentro do próprio país.
O município de Quilmes, na Grande Buenos Aires, foi o cenário de confrontos de barrabravas na semana passada. Os torcedores do Quilmes, famosos por sua violência, espancaram os rivais do All Boys com pás, além de desferir punhaladas. Segundo o deputado Fernando Pérez, da União Cívica Radical (UCR), "a Copa acelera as disputas porque os barrabravas se desesperam por financiar suas viagens ao Brasil". Estimativas das agências de turismo indicam que, no total, 15 mil argentinos viajarão ao Brasil para acompanhar a Copa.
ACORDO
Na terça-feira, autoridades dos dois países se reuniram na embaixada da Argentina, em Brasília, e selaram acordo de cooperação. Por ele, a Argentina vai fornecer ao Brasil todas as informações solicitadas nas área de segurança e migração. O acordo prevê o reforço na segurança nas fronteiras entre os dois países. A entrada de torcedores argentinos no território brasileiro vai merecer controle especial.
A reunião em Brasília teve a presença também de policiais dos dois países, dirigentes do futebol argentino e representantes dos comitês do Rio, de Belo Horizonte e Porto Alegre, as cidades que receberão a seleção de Messi na primeira fase da Copa do Mundo.
MORTES E NEGÓCIOSDesde o primeiro ataque protagonizado por barrabravas com morte na Argentina, em 1924, até o ano passado haviam morrido 230 pessoas em confrontos violentos e milhares ficaram feridas. As brigas, que até os anos 80 eram resolvidas com socos e pontapés, nos últimos 30 anos foram definidas à base de armas de fogo. Nestes 90 anos a Justiça argentina foi costumeiramente omissa, já que somente pouco mais de três dezenas de pessoas foram condenadas por essas mortes entre 1924 e 2013.
Ao contrário de outros países, onde muitas torcidas organizadas mais violentas estão vinculadas a grupos extremistas, como skinheads e neonazistas, na Argentina os barrabravas possuem fortes laços políticos e econômicos com ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores, para os quais trabalham organizando comícios, como cabos eleitorais e seguranças. 

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