segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DOMINGO, 7 DE NOVEMBRO DE 2010

Ao vencedor, a conteiner!

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net


Por Jorge Serrão

Em última análise, há apenas dois tipos de pecado mortal no campo da política: a falta de objetividade e – com frequência, idêntica a ela, mas nem sempre – a irresponsabilidade”.

(Max Weber – “A Política como Vocação” – in Ensaios de Sociologia, página 139).

Circula, freneticamente, no “e-meio” militar uma análise numérica da eleição que mereceria uma atenção dos segmentos esclarecidos da sociedade. Mesmo com o nada democrático voto obrigatório, 29.191.309 eleitores não votaram no segundo turno. Isto equivale à soma do eleitorado de 16 colégios eleitorais.

Em tese, o valor total das multas que poderão ser cobradas daqueles que não votaram: R$ 102.461.494,59. A penalidade varia entre 3% e 10% do valor de 33,02 UFIR, ou seja, de R$ 1, 06 a R$ 3,51. O Juiz Eleitoral, no entanto, poderá aumentar até 10 vezes o valor, quando considerado ineficaz, em virtude da situação econômica do infrator.

Além da falta da perigosa falta de vontade de participar do fla-flu eleiroreiro do segundo turno, outro número serve de advertência para a suposta vencedora. Mais de 80 milhões de eleitores não se interessaram em votar na Dilma do Chefe, perdão, Dilma Rousseff. Votos nulos: 4.689.293.Votos em branco: 2.452.588. Não votaram: 29.191.309. José Serra teve: 43.710.381 votos. Somando tudo, 80.043.571, em tese, não se interessaram por Dilma, que conquistou 55.752.529 votos no segundo turno. Ganhou pelo percentual de 56,05% a 43,95% do adversário que não parecia, de verdade, ter muita vontade de vencer.

Os números deviam ser bons conselheiros à futura 40ª Presidenta do Brasil. Detalhe importante: ela ainda não tomou posse, embora vá dar a impressão de que já governa, mesmo antes da saída contrariada do companheiro $talinácio. Por isso, é bom ela lembrar que a oposição ao governo eleito é bem grande (80.043.571) – considerando que temos 135.803.366 eleitores. Além disto, PSDB e DEM administrarão 10 estados que somam mais de 50% do PIB nacional e 52% da população.

Dilma realmente venceu a eleição? Claro que não. O real ganhador foi seu vice Michel Temer – que comanda o PMDB. Ele será responsável pelo lucrativo controle da entrada e saída de conteineres políticos no porto do poder brasileiro. O que for decidido politicamente, passará por ele. Se não passar, não avança no Congresso. Eis o nosso “Presidedncialismo de Coalisão” – bem definido pelo sociólogo Sergio Abranches. Dilma precisa ter muito cuidado para não praticar um Presidencialismo de “Colisão” – termo bem próximo do jeitinho dela, desde os tempos de terrorista revolucionária.

Mas isto é coisa do passado! Contrariando o comercial das Organizações Tabajara, “seus pobremas apenas comessaram” – como bem escreveria um legítimo analfabeto político. A presidenta, que não foi em seu Mestrado e Doutorado, devia dar uma lidinha em Max Weber, o pai da Ciência Política. Segundo Weber, existem dois tipos de ética. A das “convicções” (ou fins últimos) e a da “Responsabilidade”.

A primeira, da convicção, consiste em tomar decisões baseadas em normas que o sujeito considera corretas. A segunda, da responsabilidade, prevê que se pense qual será a consequência da postura ou ação do detentor do poder. Max Weber receita que, para exercer a vocação política, é preciso balancear os dois tipos de ética: Convicção + Responsabilidade = a boa política – definida por Maquiavel como a arte do possível. No sentido amplo do Poder, como verbo e como substantivo.

Dilma não pode brincar com a oposição. E, muito menos, com a sua situação – que tem um equilíbrio de forças instável contra ela. O PMDB não brinca em serviço. Seu presidente (vice da Dilma) não abre mão de um conteiner de poder. Logo, Dilma poderá tudo. Menos radicalizar – como desejam seu velho instinto ideológico e muitos radicalóides que a cercam. Nada menos que 80.043.571 potenciais opositores estão de olho nela. Por isso, como já recomendou Max Weber lá em cima do texto, Dilma precisa ser objetiva e responsável.

De cara, a Presidenta precisa saber que “bronca é ferramente de otário”. Logo, suas primeiras atitudes midiáticas, são temerárias. Na primeira entrevista pós-eleição, para o Jornal da Record do Reino de Deus, Dilma prometeu às jornalistas Adriana Araújo e Ana Paula Padrão que lhes informaria, em primeira mão, a futura composição do ministério. Promessa bobinha, mas que pode lhe custar cara, porque sinaliza uma vingancinha contra a Rede Globo – que lhe fustigou no primeiro turno da campanha.

Prova do jeitinho ressentido de Dilma foi a entrevista, imediatamente posterior, no Jornal Nacional - que agora tende a perder o status de Diário Oficial do poder tupiniquim. Será que vai? Dilma não perdoou o apresentador William Boner pelas perguntinhas-estocadas nas entrevistas amestradas do primeiro turno no JN. Ao fim da entrevista do segundo turno, quando o elegante Boner tentou lhe dar um beijinho carinhoso, Dilma tirou a cara da reta e apenas lhe estendeu, friamente, a mão de ferro. Boner, que vibrou ao anunciar a vitória da primeira mulher presidenta do Brasil, ficou com cara de manezão.

Coitadinho do marido da Santa Fátima. E coitados de nós, que corremos o risco de aturar o estilo bronqueado da futura raínha-da-cocada vermelha no Palácio do Planalto. Temer deve logo descobrir que Dilma é um conteiner difícil de carregar, mesmo com toda tecnologia adquirida no Porto de Santos. Agora, à vencedora e (ao eleitorado, principalmente), as batatas quentes... Ou os lucrativos conteineres... Que Lula (ou os ministros do Supremo) nos protejam! Amém!

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